Título: Lei de Falências beneficia a Vasp
Autor: Mariana Barbosa, Renata Stuani
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Economia & Negócios, p. B9

Juiz aceita pedido de recuperação judicial feito pela empresa em julho, mesmo mês em que a Varig obteve o sinal verde

O juiz Alexandre Lazzarini, titular da 1ª Vara de Falência e Recuperação de Empresas, aceitou ontem o pedido de recuperação judicial feito pela Vasp no dia 1º de julho. Sem voar desde o início do ano e sob intervenção da Justiça do Trabalho, a Vasp é a segunda companhia aérea a entrar em recuperação judicial pela nova Lei de Falências, a Lei de Recuperação de Empresas. A Varig deu entrada com pedido de recuperação no dia 17 de junho e teve seu pedido deferido pela Justiça no dia 22 do mesmo mês. A demora no deferimento do pedido da Vasp, segundo o juiz, se deveu à situação "excepcional" da empresa e da dificuldade de se juntar toda a documentação exigida pela lei. Para verificar se a empresa teria condições de juntar os documentos, o juiz chegou a nomear dois peritos e estendeu os prazos estabelecidos por lei. Depois que parou de voar, a empresa teve seu patrimônio dilapidado. Diversos documentos e equipamentos foram roubados, incluindo uma turbina que foi encontrada em uma garagem em São Bernardo do Campo.

No despacho, o juiz diz que é "patente a crise econômica e financeira da devedora, existindo, inclusive, vários pedidos de falência em andamento". O advogado Alexandre Tajra foi nomeado administrador judicial para acompanhar o caso. A empresa terá 60 dias para apresentar seu plano de recuperação judicial, a contar da publicação da decisão no Diário Oficial.

Com o controlador da empresa, Wagner Canhedo, afastado por causa da intervenção da Justiça do Trabalho, o pedido de recuperação judicial foi feito pela comissão de intervenção. Mas, algumas semanas depois do pedido, a Justiça promoveu uma mudança na comissão, com a indicação de três interventores, sendo um indicado por Canhedo. Com isso, segundo o advogado da empresa, Pedro Morel, todas as decisões estão automaticamente ratificadas por Canhedo.

O diretor da Associação dos Pilotos da Vasp (Apvasp), Areowaldo Panadés, afirmou que já tem contato com alguns investidores interessados em colocar a Vasp para operar novamente com transporte de carga e encomendas e com vôo charter (fretamento), mas não vai revelar nomes no momento. A companhia parou de operar em janeiro e a volta como transportadora regular de passageiros está descartada, por enquanto.

O plano de recuperação, segundo ele, deverá mostrar qual o volume de recursos financeiros necessário para colocar a companhia de pé novamente. Panadés disse que Wagner Canhedo não participa desse projeto. "Desconheço se ele tem um plano à parte", diz. Panadés promete ser criterioso na escolha do investidor. "Não haverá aventureiros, como no passado."

Panadés declarou que a Vasp tem condições de voltar a operar a curto prazo com oito aeronaves. A empresa tinha 31 quando o Departamento de Aviação Civil (DAC) determinou a suspensão das suas operações, em janeiro. No entanto, como são aeronaves com mais de 30 anos de vida, analistas acreditam que será preciso muitos investimentos para tirá-las do chão.