Título: Teoria dos jogos, pela segunda vez, dá Nobel a economistas
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Economia & Negócios, p. B7

Thomas Schelling e Robert Aumann vão dividir o prêmio de US$ 1,3 milhão

RIO - A teoria dos jogos, a sofisticada abordagem econômica das interações humanas que envolvem simultaneamente a cooperação e o conflito, acaba de render mais um prêmio Nobel, o de 2005, para os economistas americanos Thomas Schelling e Robert Aumann (que também é cidadão israelense e mora em Jerusalém). Em 1994, pelo trabalho no mesmo tema, ganharam o Nobel os economistas John Nash, John Harsanyi e Reinhard Selten. Nash ficou célebre pelo filme hollywoodiano "Uma mente brilhante", sobre sua vida e seus problemas psiquiátricos. Os dois vencedores de 2005 vão dividir o prêmio equivalente a US$ 1,3 milhão. Schelling, que tem 84 anos, e é professor na Universidade de Maryland, tem um trabalho mais voltado para a parte prática, de aplicação da teoria dos jogos, e especializou-se na análise da estratégia de conflitos internacionais, como a guerra fria em torno da possibilidade de uma guerra nuclear.

Ele mostrou, por exemplo, que a capacidade de destruir o adversário, naquele contexto, é mais valiosa do que a de se defender, o que é coerente com o "equilíbrio de terror" típico da guerra fria. A comissão do Nobel considerou que a compreensão dessa lógica pelas partes envolvidas contribuiu para evitar uma guerra nuclear.

Aumann, de 75 anos, é o mais teórico dos dois, com um trabalho altamente matemático e "quase filosófico em alguns aspectos", segundo Aloísio Araújo, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio.

Uma situação que envolve a teoria dos jogos, por exemplo, é aquela em que duas empresas duopolistas fazem uma guerra de preços. Se ambas não iniciassem a guerra, manteriam metade do mercado com um preço alto. Se uma só baixa os preços e a outra não reage, toma o mercado da concorrente. Mas se as duas guerreiam até o fim, terminarão com a metade do mercado cada uma, e um preço mais baixo. No fundo, a melhor decisão por parte de cada uma depende da suposição sobre qual é a melhor decisão para a outra.

Araújo explica que esse tipo de análise, no qual uma das partes leva em conta as ações das outras que com ela estão interagindo, tem um componente estratégico, que não está presente na economia clássica, na qual prevalece a idéia de um mercado competitivo que cada produtor individual não tem capacidade de influenciar. Nessa situação, não faz sentido tentar antecipar as decisões dos outros agentes. Hoje, a análise estratégica baseada na teoria dos jogos é ensinada em Economia, nas escolas de Administração e até para especialistas em relações internacionais. "Aumann é um dos meus grandes ídolos", diz Araújo. Ele explica que uma de suas contribuições foi a de mostrar matematicamente que, em situações de conflito e cooperação, a prolongada repetição do jogo faz com que as partes tendam a cooperar.