Título: Indústria pede barreira contra poliéster chinês
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

Setor têxtil já entrou com pedido de salvaguarda para três itens

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) entrou ontem com pedido de salvaguardas contra fios de poliéster texturizado da China. Na quinta-feira passada, a Abit havia encaminhado ao Departamento de Defesa Comercial (Decom) do Ministério do Desenvolvimento petições para salvaguardas contra tecidos de seda e, na sexta-feira, contra veludo corduroy. "Vamos encaminhar uma petição por dia até o fim da semana", diz Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit. Segundo ele, a entidade vai encaminhar pedidos de proteção para 75 produtos nos próximos 30 dias.

Os decretos que regulamentaram o uso de salvaguardas específicas para a China - um para têxteis e outro para os demais produtos - foram publicados no dia 6 de outubro.

Com a regulamentação, os setores que se sentem prejudicados pela alta das importações chinesas podem entrar com petições no Decom para a adoção de cotas ou tarifas sobre os produtos da China. Para isso, precisam provar que houve dano ou ameaça de dano.

Hoje de manhã, representantes de 20 setores industriais vão se reunir na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para avaliar os pedidos de proteção. Para Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp, entre 10 e 15 entidades devem entrar com pedidos de salvaguardas. "Não haverá pedidos de todos os setores porque, em alguns casos, não há dumping ou concorrência desleal", diz Giannetti.

A indústria de escovas está entre os setores que se queixam da "invasão chinesa". "Nos últimos anos, quase todas as fábricas de escovas do Brasil pararam de fabricar aqui e passaram a ser importadoras de produtos da China", diz Manolo Miguez, presidente da Associação Brasileira de Vassouras, Escovas e Pincéis.

Segundo Synésio Batista, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), os danos ao seu setor são tão grandes que a indústria vai precisar das salvaguardas provisórias.

O Decom tem, no caso dos têxteis, até 4 meses para avaliar os pedidos, e no restante dos casos, até 8 meses. Mas a lei prevê a aplicação de salvaguardas provisórias, que poderão ser adotadas em circunstâncias críticas, por um período máximo de 200 dias. A indústria de calçados também vai solicitar salvaguardas provisórias.

Já a China continua apostando em uma saída negociada. Em declarações ao Estado durante uma reunião em Zurique, Sun Zhenuy, embaixador chinês na Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou que sabe da pressão que o governo brasileiro está sofrendo por medidas protecionistas.

"A regulamentação das salvaguardas é normal, vários países o fizeram", afirmou Sun. "O que tentaremos é negociar um acordo sobre os têxteis. Entendemos que o governo brasileiro está sendo pressionado pelo setor privado, mas entendemos que o Itamaraty buscará um acordo para evitar a aplicação das salvaguardas", disse.

O diplomata garante que está em "constante contato" com o governo brasileiro. "Acho que teremos um acordo no setor têxtil", afirmou. Ele não acredita, porém, que Brasil e China conseguirão fechar acordos em outros setores.