Título: Para investidor, ataque à política fiscal é o que mais preocupa
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

"Para o mercado financeiro, o pior cenário seria Lula ser forçado a aceitar a renúncia de Palocci e Palocci deixar claro que deixa o governo por falta de apoio para defender a política econômica contra pressões internas", afirmou ontem Alexander Kazan, da Bear Stearns, ao comentar o impacto de uma possível troca de comando na Fazenda. "A ironia é que o mercado reagiria melhor se o Palocci saísse apenas por causa de acusações relacionadas com os escândalos", observou. "Mas agora, por causa das recentes disputas entre Dilma Roussef e Palocci, a saída do ministro tem mais chances de suscitar perguntas entre os investidores sobre a continuidade da política econômica". Segundo Kazan, "se Palocci sair e for substituído por (Aloizio) Mercadante ou outro nome considerado abertamente político, a reação do mercado, a curto prazo, será negativa por causa das preocupações que a escolha suscitará sobre a deterioração da disciplina fiscal".

Paulo Vieira da Cunha, do HSBC, voltou de uma visita a Brasília convencido de que "Palocci sobrevive semanas". Segundo ele, a situação do ministro "é muito difícil, e só melhorará se surgir algum fato novo que venha a ajudá-lo, mas os fatos novos até aqui só o prejudicaram". Para Vieira da Cunha, mudou a visão da cena política em que Palocci atua. A oposição ao ministro não vem mais apenas de dentro do PT, mas também do PSDB, que apoiava o ministro, mas agora vê nele a derradeira proteção a Lula.

O economista do HSBC calcula que, dada a força de Dilma, se Lula optar por um substituto tecnocrático para Palocci e chamar o atual secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, fará uma poderosa reafirmação de seu compromisso com a disciplina fiscal. "Mas não acho que é isso que acontecerá", disse Vieira da Cunha. "Outra possibilidade é o Bernard Appy (o secretário de Política Econômica). Aí, ficaremos encima do muro. Agora, se for um nome abertamente político, o mercado reagirá mal."

Essas hipóteses poderão ser testadas já amanhã, no seminário "Excelência de Transações com Títulos", organizado pela Bolsa Mercantil de Futuros e outras entidades do mercado financeiro brasileiro, em Nova York.

Kazan acredita que a relativa tranqüilidade dos investidores deriva de um cálculo parecido. Segundo ele, diante da nomeação de um Mercadante ou de um político petista para a Fazenda, haverá "uma reação inicial negativa pronunciada, mas os mercados se recuperarão de qualquer fuga dos investidores ao se darem conta da improbabilidade de mudanças na política econômica no atual mandato de Lula". Quanto ao futuro, "o mercado deve começar logo a olhar para as eleições de 2006, e eu diria que a maioria dos investidores acredita, hoje, que o PSDB está bem posicionado para vencer".