Título: Com aftosa, ameaça de embargo
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Vendas externas deverão sofrer restrição com ocorrência da doença em rebanho de Mato Grosso do Sul

BRASÍLIA - Governo e pecuaristas temem que países importadores de carne brasileira adotem restrições, por causa do foco de febre aftosa registrado no município de Eldorado, em Mato Grosso do Sul. O Estado é responsável por metade das exportações brasileiras de carne bovina, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Leôncio de Souza Brito Filho. "É claro que tememos uma restrição comercial; mas esse é um procedimento normal." O secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Alves Maciel, ainda é cedo para pensar em restrições. "Não tenho condições no momento de fazer um diagnóstico do que vai ocorrer. Não vou fazer conjecturas. É preciso tratar a situação com equilíbrio e maturidade."

Para a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o problema vai prejudicar as exportações de carne bovina. A entidade estimava crescimento de 28% das vendas de carne "in natura" este ano, para o valor de US$ 2,5 bilhões, ante US$ 1,962 bilhão em 2004. "Infelizmente, algum reflexo negativo vai ter, que não se pode quantificar agora", disse o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro. A entidade teme que a suspensão das compras se estenda por muito tempo.

Além disso, outra pretensão brasileira pode ser prejudicada: a entrada no mercado americano de carne não industrializada, cujas negociações estavam avançadas. De qualquer forma, disse Castro, é preciso aguardar as averiguações sobre o problema. Caso ocorra a suspensão de importação do produto, "se cancelar apenas as vendas originadas do Mato Grosso do Sul, é dos males o menor."

PASSADO

No ano passado, dois focos de febre aftosa em regiões não exportadoras preocuparam exportadores, pecuaristas e governo brasileiro. Em junho, os casos surgidos em Monte Alegre, no Pará, interromperam 34 meses sem registro da doença no País. O segundo foco detectado foi em Careiro da Várzea, no Amazonas.

Nenhuma das regiões era exportadora de carne, mas o surgimento da doença levou vários países a suspender as compras de carne. A Rússia, por exemplo, manteve um embargo de seis meses e, depois de suspender o embargo, explicaram ter confundido Pará com Paraná.

Mesmo com o foco no Mato Grosso do Sul, o secretário mantém a expectativa de receita de US$ 8 bilhões com as exportações totais de carnes, ante US$ 6,4 bilhões em 2004. Neste ano, havia expectativa de que exportações de carnes superassem o faturamento das exportações do complexo soja, carro-chefe da balança comercial do agronegócio, o que não vai concretizar. O setor de carnes exportou US$ 5,3 bilhões entre janeiro a agosto deste ano, valor 34,5% superior ao registrado em igual período do ano passado, que foi de US$ 3,9 bilhões, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O rebanho de Mato Grosso do Sul é de 25 milhões de cabeças, com abate de cinco milhões de animais por ano. O Estado fornece carne para o exterior e para o mercado interno, principalmente para São Paulo.