Título: Rodrigues desmente rumores de demissão
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

Ministro conversou com o presidente por telefone, mas assunto foi a aftosa

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, negou ontem à noite, ¿enfaticamente¿, que pretenda deixar o cargo. Através da Assessoria de Imprensa do ministério, ele negou ter discutido uma possível saída com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo os assessores, Rodrigues está preocupado com o aparecimento, em Mato Grosso, de um novo surto de febre aftosa. A versão de que Rodrigues renunciaria ao cargo a qualquer momento circulava ontem à noite, em Brasília. Outro ministro de Estado que conversou com o presidente por telefone disse nada ter ouvido sobre a possível saída do ministro da Agricultura e um alto funcionário do Palácio confirmou não ter havido nenhuma conversa sobre isso. Lula e Rodrigues conversaram ontem por telefone, mas o assunto foi a aftosa. Assessores do ministro comentaram que não é de hoje que o ministro alerta sobre a falta de recursos para a defesa sanitária, mas disseram não saber de onde surgiu a versão de que Rodrigues estaria renunciando ao cargo. O ministro passou o dia ontem em São Paulo, acompanhando a mulher, que está em tratamento médico. Hoje, ele volta a Brasília. Na semana passada, em entrevista ao Estado, o ministro alertou para a falta de recursos para o agronegócio.

¿O episódio (surto de aftosa) reflete o descaso do governo com a vigilância sanitária e a falta de prevenção¿, afirmou o presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Costa Guedes. A avaliação é endossada pelo deputado federal Abelardo Lupion (PFL-PR), da bancada ruralista. ¿Estamos alertando desde o ano passado que logo iria aparecer um foco de aftosa ou gripe aviária¿, disse. ¿O governo só liberou R$ 30 milhões dos R$ 90 milhões previstos para este ano destinados à fiscalização da defesa sanitária animal.¿

Guedes adiciona agravantes a esse quadro. Segundo ele, entre janeiro de 2004 e maio deste ano, por exemplo, o governo comprou R$ 752 mil em kits de reagentes e soro do Centro Panamericano de Febre Aftosa e não pagou. Os kits são usados para avaliar a situação sanitária dos rebanhos. De acordo com Guedes, o Ministério da Agricultura deve US$ 3,152 milhões ao órgão.

¿O estrago na exportação e no mercado interno é certo¿, diz Guedes. Ele lembra que Mato Grosso do Sul é o Estado com maior rebanho bovino comercial, de 24 milhões de animais. Além disso, faz divisa com Estados importantes na criação de bovinos, como Mato Grosso (20 milhões de animais), Goiás (20 milhões), São Paulo (15 milhões) e Paraná (10 milhões), o que pode facilitar a propagação da doença.