Título: Ex-ministro diz que problema virá depois
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Economia & Negócios, p. B5

Ministro de Minas e Energia no governo Fernando Henrique Cardoso, o senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA) reconheceu que o País tem suprimento de energia garantido até 2010, como disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa Café com o Presidente. Mas alertou que é justamente a partir daí que os problemas podem surgir. "E na Região Nordeste pode haver falta de abastecimento em 2009, conforme já indicou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)", afirmou o senador, que foi ministro de 1999 a fevereiro de 2001 - antes, portanto, do racionamento de energia. Tourinho disse não concordar com afirmação de Lula de que o racionamento de energia ocorrido no governo anterior teria sido causado por "desleixo". E disse que a fala de Lula embute a preocupação com a falta de energia a partir de 2010. "O governo reconhece que tem problemas para 2010, e agora isso foi reafirmado pelo presidente, de alguma forma."

Para o senador, uma nova crise energética ocorreria por causa de uma possível falta de gás natural. Tourinho argumenta que não há mais tempo suficiente para construir, até 2010, novas usinas hidrelétricas, que levam de cinco a seis anos para serem erguidas. Portanto, o abastecimento nesse horizonte de tempo precisa ser garantido por meio de termoelétricas, que precisam do gás para operar. Segundo o ex-ministro, o próprio governo mostrou estar preocupado quando determinou que a Petrobrás adaptasse termoelétricas a gás para operar também com óleo diesel.

O presidente do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, criticou as declarações de Lula. Para ele, o presidente foi "infeliz" ao dizer que o fornecimento de energia está garantido até 2010. Segundo Pires, é possível que antes disso o País enfrente problemas. "O governo atual não resolveu a questão do suprimento. A falta de investimentos em geração continua", afirmou. "O governo demorou um ano e meio para fazer a nova lei do setor e três anos para fazer o primeiro leilão", disse.

Para o diretor da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Paulo Ludmer, a situação não é tão "rosa" como o presidente pintou. Para que tudo dê certo e o País não sofra um novo racionamento, diz ele, é preciso resolver algumas questões, como os problemas de licenciamento ambiental, questões de suprimento de gás natural da Bolívia, entre outras pendências. Ele lembra ainda que o governo Lula ainda não licitou nenhuma hidrelétrica em três anos. Segundo Ludmer, o risco de racionamento ainda dependenderá do crescimento econômico e das condições climáticas.