Título: Aftosa em MS ameaça exportações
Autor: João Naves de Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

Foco da doença pode afetar rebanho bovino de 25 milhões em todo o Estado, que exporta média de US$ 28,3 milhões por mês

CAMPO GRANDE - Depois de seis anos consecutivos sem aftosa, Mato Grosso do Sul volta a enfrentar o problema, que, além de ameaçar de contaminação todo o rebanho composto por quase 25 milhões de cabeças de gado de corte, pode reduzir drasticamente as exportações. O Estado negocia por mês US$ 28,3 milhões, só com vendas diretas ao mercado externo de carnes congeladas e resfriadas, tomando como base a média mensal de exportações de janeiro a agosto, período em que foram remetidos US$ 226,8 milhões de produtos do gênero a outros países. Ontem foi confirmada cientificamente a existência de um foco da doença na Fazenda Vezozzo, município de Eldorado, a 440 quilômetros de Campo Grande, extremo sul do Estado, na divisa com o Paraguai. Dos 582 bovinos existentes na propriedade rural, 140 são portadores da doença, segundo laudo elaborado pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) do Ministério da Agricultura, no Recife, Pernambuco. A primeira medida foi a interdição da fazenda e de outras propriedades com atividades pecuárias em um raio de 25 quilômetros. A área isolada abrange os municípios de Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Mundo Novo, que juntos têm 685,8 mil cabeças.

Segundo o diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), Crisostomo Mauad Cavalléro, foram instalados postos de fiscalização e aplicação de medidas como a restrição do ingresso na propriedade, sendo permitida a entrada e a saída apenas de profissionais que trabalham na inspeção clínica. Essa inspeção compreende inclusive o extermínio dos animais, por meio do abate, incineração e enterro das carcaças. Todos os bovinos da Fazenda Vezozzo serão sacrificados.

De acordo com Cavalléro, nos exames realizados pelo Lanagro, foi constatada a presença do vírus tipo O, mas ainda é desconhecido o subtipo, o que obriga a adoção de todas as medidas preventivas possíveis.

"Sabemos que se trata de um foco isolado e que a manifestação da doença foi violenta", disse o diretor do Iagro, acrescentando que nas fotos tiradas no fim do mês passado, logo após as primeiras denúncias, notava-se a possibilidade da aftosa naquele rebanho. Ele observou que, de acordo com as primeiras análises, o gado infectado não é procedente do Paraguai, porém todas as hipóteses estão sendo investigadas.

Ontem mesmo, o ministro paraguaio da Agricultura e Pecuária, Gustavo Ruiz Díazas, informou que o país reforçou o controle do gado na fronteira com o Brasil.

Na semana passada, o Iagro suspendeu a etapa de vacinação antiaftosa para bezerros, de acordo com as informações de Cavalléro, que acrescentou que a medida deve ser mantida. "É preciso repensar o modelo de defesa sanitária, investindo em outras ações, porque o produtor tem durante todos este anos feito as vacinações por faixas etárias e, ainda assim, foi surpreendido por focos de febre aftosa em 1998, 1999 e agora", afirmou Cavalléro, acrescentando que a etapa de vacinação de bezerros custa R$ 17 milhões aos pecuaristas.

Para o combate ao foco em Eldorado foram mobilizados pouco mais de 100 profissionais, distribuídos em 21 equipes na região. Para o superintendente federal de Agricultura, José Antônio Felício, todo esse trabalho não consumirá menos de R$ 1 milhão.

Tanto Felício quando Cavalléro reclamaram que os recursos para sanidade animal foram repassados abaixo do prometido pela União. Conforme Cavalléro, o Estado de Mato Grosso do Sul recebe R$ 1,9 milhão, quando deveria receber R$ 15 milhões. Com agências internacionais