Título: Greenspan faz alerta sobre déficit nos EUA
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

O recente fortalecimento do dólar ante o euro demonstra que a economia americana não enfrenta problemas para financiar seu déficit em conta corrente, mas essa situação não pode ser empurrada indefinidamente, porque num certo momento, os investidores estrangeiros poderão se cansar de rolar essa dívida. A advertência foi feita por Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em videoconferência, Greenspan lembrou que o déficit em conta corrente- a medida mais ampla do comércio dos EUA com o resto do mundo, pois inclui os fluxos de investimentos - chegou a 6,3% do Produto Interno Bruto no segundo semestre, e atingiu US$ 668 bilhões no ano passado. Ele é financiado principalmente por investidores estrangeiros. "Essa situação não pode continuar indefinidamente", disse. "Num certo momento, os investidores poderão se recusar a continuar financiando esse déficit".

Para Greenspan, os investidores estrangeiros poderão ficar com medo de manter uma boa parte de suas aplicações em ações e títulos do Tesouro americano, e sugeriu que isso já pode estar ocorrendo. Ele observou que, a nível mundial nos 3 primeiros meses de 2005, 42,5 % dos investimentos externos eram em dólares, e 39,3% em euros. "Até agora, os estrangeiros mostram-se dispostos a financiar os desequilíbrios da conta corrente dos EUA, mas talvez eles percam o apetite por aplicações denominadas em dólares", afirmou. Se os investidores vendessem de uma vez as ações e os títulos americanos, os preços desses ativos desabariam, e a taxa de juro dispararia.

Segundo Greenspan, os EUA se beneficiam do fato de terem uma moeda considerada universal, a moeda na qual os investidores pensam primeiro, na hora de aplicar fora de seus países. Isso ajuda o país a manter o juro baixo.

"Embora eu duvide que o dólar vá perder a condição de moeda de reserva a curto prazo, deveríamos aprender com as lições da Grã-Bretanha", disse. Ele lembrou que os britânicos impuseram muitas regulamentações para manter a libra esterlina forte, o que tornou a economia daquele país rígida demais. "Se os investidores desistissem de financiar o déficit em conta corrente dos EUA, o impacto provavelmente seria absorvido logo por uma economia muito mais flexível do que a britânica ao término da Segunda Guerra", comentou.