Título: Relatório pedirá expulsão de Delúbio
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Nacional, p. A8

Para Comissão de Ética do PT, ex-tesoureiro praticou 'gestão temerária'; Campo Majoritário tenta convencê-lo a solicitar desfiliação

A Comissão de Ética do PT concluirá hoje o novo relatório que vai recomendar a expulsão do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares de Castro, pivô da crise do mensalão. O argumento dos integrantes da comissão é que Delúbio praticou "gestão temerária", terceirizando as finanças do PT. Emissários do Campo Majoritário - grupo que abriga deputados e dirigentes da legenda acusados de envolvimento no escândalo - tentam convencer Delúbio a pedir desfiliação, como fez Silvio Pereira, então secretário-geral do PT, em julho, para evitar mais constrangimentos. Em conversas reservadas, petistas dizem que, embora Delúbio tenha recorrido à Justiça no mês passado - conseguindo liminar para evitar a degola -, seu destino já está traçado.

Até ontem, porém, o ex-tesoureiro - que está apenas afastado do partido, à espera do julgamento - resistia a sair de livre e espontânea vontade. Ex-sindicalista, Delúbio é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Auxiliares do presidente contam que ele não acredita que Delúbio tenha se beneficiado do caixa 2 porque, nos tempos de vacas magras, sempre pôs dinheiro do próprio bolso para ajudar o PT. Mesmo assim, Lula está muito irritado com o companheiro e tem dito que ele fez "lambança".

O relatório da Comissão de Ética ainda passará pelo crivo do Diretório Nacional, com reunião marcada para o próximo dia 22, quando tomará posse a nova cúpula. Mas o parecer pela condenação de Delúbio será votado pelo antigo diretório. O Campo Majoritário perdeu a hegemonia depois da eleição direta no PT, com voto dos filiados.

Luix Costa, um dos integrantes da comissão, disse que apresentará texto separado, cobrando a abertura de processo disciplinar interno também para os outros acusados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Estão na lista os deputados José Dirceu (SP), ex-chefe da Casa Civil, João Paulo Cunha (SP), ex-presidente da Câmara, Professor Luizinho (SP), Paulo Rocha (PA), Josias Gomes (BA), José Mentor (SP) e João Magno (MG).

"Espero convencer meus companheiros a unificar todas as propostas num único relatório", afirmou Costa. "Não há como alguém no PT dizer que uma única pessoa montou todo o esquema. Está mais do que claro que não foi assim e, portanto, não é possível responsabilizar um só."

A tendência, no entanto, é que a comissão arquive a proposta de Costa, da corrente Ação Popular Socialista. Quase todos os militantes da facção saíram do PT e migraram para o PSOL, a exemplo do deputado Ivan Valente (SP) e de Plínio de Arruda Sampaio, candidato derrotado na disputa pelo comando petista. Luix Costa promete engrossar a fila.

O presidente interino do PT, Tarso Genro, também avalia que Delúbio não agiu sozinho. "Não acho que ele seja o responsável exclusivo por tudo o que aconteceu no PT", disse Tarso. "Aliás, não há responsabilidades individuais: tudo se organizou dentro do PT com uma estrutura paralela. Vejo mais um processo originado de métodos de direção e de integração partido-Estado, partido-governo, feito de maneira equivocada."

Oficialmente, a dívida do PT está em R$ 55 milhões e é resultado de empréstimos tomados no Banco Rural e no BMG, tendo como avalista o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Na prática, porém, o rombo ultrapassa R$ 160 milhões, mas a cúpula petista não reconhece o débito.