Título: João Paulo diz que renúncia é da luta política, mas não sairá
Autor: Denise Madueno, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2005, Nacional, p. A4

Deputado garante que não usará o recurso, pois confia na absolvição no plenário

BRASÍLIA - O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e o ex-líder Paulo Rocha (PA), dois dos sete petistas que integram a lista dos cassáveis, deixaram claro ontem que não são contrários à renúncia ao mandato, porque consideram a atitude parte da luta política daqueles que não vêem legitimidade no tribunal julgador. Mas, como sempre, reafirmaram que não pretendem renunciar. "Não vejo na renúncia uma confissão de culpa nem nada desabonador. Pelo contrário. Faz parte da luta política de quem não vê legitimidade no tribunal que o julgará. Mas eu não penso em renunciar, porque cada caso é diferente", disse João Paulo. Com bom trânsito entre os congressistas - pois fez muitas amizades quando presidia a Câmara -, ele leva vantagem sobre os outros petistas ameaçados de cassação.

João Paulo acha que dá para ser absolvido pelo plenário, porque terá os votos do PT, de partidos da base do governo e até mesmo no PSDB e no PFL. Mas, como é preciso trabalhar muito e ter fé no voto favorável dos deputados, desde ontem anda com um terço na mão.

A renúncia possibilita ao deputado que optar por ela disputar a eleição do ano que vem. Depois que o processo é aberto no Conselho de Ética, o deputado não pode mais renunciar e, se for cassado, seus direitos políticos ficam suspensos até 2015.

O ex-líder Paulo Rocha, que de acordo com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza sacou R$ 920 mil de suas contas no Banco Rural - o que não foi contestado -, disse que, se dependesse de suas bases, já teria renunciado: "Minha base cobra muito para que renuncie. Ela acha que aqui há uma luta desigual. Quer que eu renuncie para preparar minha volta", disse Rocha. "Mas não quero renunciar. Quero ver o processo para preparar minha defesa."

A pressão para que os parlamentares petistas renunciem é feita, principalmente, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula considera que a renúncia vai reduzir a crise, que já dura mais de quatro meses - a idéia é que o assunto PT/corrupção assim suma aos poucos.

Outros petistas da lista dos cassáveis que ainda podem renunciar são João Magno (MG), José Mentor (SP) e Professor Luizinho (SP). O ex-ministro José Dirceu (SP), que já responde a processo de cassação, não tem mais direito a renunciar. Magno disse que não renuncia e o Luizinho acha que vai ser absolvido no Conselho de Ética. José Mentor diz que ainda não é hora de pensar em renúncia.

CASO JOSÉ BORBA

O ex-líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR), já tem pronto o ato de renúncia mas não quer puxar a lista dos que vão abrir mão do mandato. Já o líder do PP, José Janene (PR), não renunciará. "Vou enfrentar o processo", disse ele, disposto a se defender no Conselho de Ética e no plenário.

Ao mesmo tempo, eles trabalham de olho em 2006, defendendo verbas da União para as prefeituras, o que lhes garantirá apoio para voltar à Câmara. Para isso precisam ficar no cargo até pelo menos o dia 30.