Título: Confirmada em SP morte por maculosa
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Vida&, p. A19

Menina do Jabaquara morreu em decorrência da febre, segundo exames; a mãe, que tem sintomas da doença, está em observação

Exames do Instituto Adolpho Lutz confirmaram ontem que Luana Monteiro, de 12 anos, morreu mesmo de febre maculosa, no Hospital do Jabaquara, zona sul de São Paulo, no domingo. Edna Maria Monteiro, de 43 anos, mãe da garota, internada desde segunda-feira com sintomas semelhantes aos da doença, ainda está em observação no mesmo hospital. De acordo com Thiago da Silva Mendes, epidemiologista da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa), o quadro de Edna é estável. "Ela está recebendo tratamento para febre maculosa, com antibióticos. Mas os exames só serão confirmados nos próximos dias", diz ele.

A garota estava na 5ª série. Esforçada, não escondia um pouco de dificuldade em matemática. E pedia para o tio, o estudante de Economia Adilson B. (ele pediu para não ser identificado), ajuda nas lições. "Mas o negócio dela era brincar", lembra ele. "Apesar da idade, não tinha chegado à adolescência. Valia tudo, videogame, vôlei, queimada. Era cheia de vida."

Com o resultado positivo, esse passa a ser o segundo caso de morte por febre maculosa no bairro do Jabaquara neste ano. O outro foi em fevereiro. Em 2004, a Covisa registrou outros três casos da doença, sendo um deles com morte, no bairro do Ipiranga. Uma das suspeitas é que a região de mata do Parque do Estado seja o foco principal.

"Tanto o Ipiranga como o Jabaquara são próximos do Parque do Estado. Isso não significa que a população não possa visitar o parque. Pedimos apenas que evitem as regiões de mata virgem do parque, que já são fechadas para passeios e caminhadas", conta Marisa Lima Carvalho, coordenadora da Covisa.

Os vizinhos da família de Luana estão assustados, evitando sair de suas casas e com medo de manter animais domésticos.

Ontem de manhã, durante visita de 30 agentes de saúde da Secretaria Municipal de Saúde à região próxima à casa da família da garota, foram encontrados três carrapatos na orelha de um cachorro na casa de uma vizinha. "Não sabemos se é esse tipo de carrapato que transmite a febre maculosa. Vamos ainda analisar", conta Sandro Marques, biólogo da Covisa, que acompanhou a vistoria na maioria das 450 casas da região.

Os moradores do bairro receberam dos agentes folhetos explicativos sobre a doença. Entre as dicas, a de como lidar com animais domésticos. "Cães e gatos devem ser tratados com carrapaticidas, ser mantidos em casa ou só sair com coleira para evitar com que percorram terrenos com vegetação", explica Marisa, da Covisa."

A casa da família de Luana, além próxima do Parque do Estado, fica muito perto de um terreno vazio de cerca de 20 mil metros quadrados.

Agentes também vistoriaram a calçada que faz divisa com o Parque do Estado. Para hoje está prevista a coleta e a análise de carrapatos em dez pontos dentro do parque. "Estudamos a possibilidade de checar nos próximos dias, de maneira preventiva, o Horto Florestal, outra área de mata virgem na cidade", diz Marisa.

Moradores da região do Jabaquara receberam a orientação de levar carrapatos encontrados às Unidades Básicas de Saúde (UBSs). "Profissionais da saúde da região receberam a orientação de estarem atentos aos sintomas da doença da população (ver quadro)", conta Marisa.

Luana foi levada mais de uma vez ao hospital, antes de ser internada na sexta-feira passada. "Numa delas, disseram que era enxaqueca", contou Tânia Regina Neves Oliveira, tia da menina.

Um menino de 10 anos foi internado no dia 4 em Juiz de Fora (MG) com suspeita de febre maculosa. O resultado dos exames do garoto deve sair em até duas semanas.