Título: Brasil é 71.º em qualidade da educação
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Vida&, p. A16

Ranking da Unesco com 121 países coloca o Brasil atrás dos vizinhos do Cone Sul e mostra o risco de não alcançar metas da ONU

DESATENÇÃO: São 771 milhões de analfabetos acima de 15 anos no mundo. E 100 milhões de crianças fora da escola que podem se tornar adultos analfabetos num futuro próximo. O relatório global Educação para Todos, apresentado ontem pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) aponta a falta de preocupação com adultos analfabetos como um empecilho ao desenvolvimento. "Governos e países doadores estão restringindo o progresso das metas de educação para todos e uma maior redução da pobreza ao prestar apenas uma atenção periférica aos milhões de adultos analfabetos", diz o relatório. A maior parte dos governos investe pouco em programas específicos, diz a Unesco, assim como os países que doam recursos para investimento em educação não se preocupam com o analfabetismo de adultos.

O documento reconhece que os países em desenvolvimento aumentaram de 66%, em 1970, para 85% em média o número de alfabetizados entre 15 e 24 anos. Mas a causa, aponta, são mais os programas de universalização da educação básica do que métodos que tratem diretamente do analfabetismo.

O Brasil corre o risco de não atingir parte das metas de educação traçadas em 2000 pelas Nações Unidas no encontro Educação para Todos.

Apesar de ter posto a maior parte das crianças na escola, o País ainda peca pela falta de qualidade na educação e por ter dificuldades de alfabetizar adultos. Entre 121 países, o Brasil aparece em 71º lugar. Se a colocação é ruim, fica bem pior quando é avaliado o número de crianças que chegam à 5ª série do ensino fundamental: 85º. Lugar próximo de países africanos, como Zâmbia e Senegal.

O relatório global Educação para Todos versão 2006, divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), apresenta o ranking com base no Índice de Desenvolvimento da Educação (IDE) - uma fórmula que soma dados de alfabetização, matrícula na escola primária, qualidade na educação e paridade de gênero na escola. No ano passado, o País estava em 72º. Ganhou alguns pontos. Passou de um IDE de 0,899 para um de 0,905, um crescimento pequeno justamente na permanência na escola.

No entanto, o Brasil vai realmente bem apenas no índice de matrículas, onde estaria próximo de países como Hungria e Polônia. A qualidade de educação, que é vista pela Unesco por meio da permanência das crianças até a 5ª série, empurra o Brasil para baixo. A alta repetência - a maior da América Latina - e a quantidade de horas que as crianças passam na escola são dois dos fatores que a Unesco aponta como problemáticos para o Brasil. Pelos dados do órgão, seriam necessárias entre 4h25 e 5 horas para as crianças realmente aprenderem. A média brasileira é de 4h15, mas em muitos Estados não chega nem a 4 horas.

RITMO LENTO

Na paridade de gênero, o Brasil também tem problemas - contrários aos da maioria dos países. Enquanto na maior parte do mundo são as meninas que ficam fora da escola, o Brasil tem perdido os meninos para a repetência e evasão. O País já tem o maior índice de repetência da América Latina. Entre os meninos, a situação é especialmente ruim. Dados do relatório retirados do governo brasileiro colocam a repetência em cerca de 18% entre as meninas e quase 25% entre os meninos.

O relatório deste ano é centrado no analfabetismo adulto. Apesar de citado pelas campanhas e projetos de alfabetização, o Brasil é apontado entre os 20 países que podem não atingir a meta de reduzir em 50% o número de analfabetos até 2015. Isso porque o ritmo é lento.

O Brasil tem hoje cerca de 16 milhões de analfabetos. O relatório da Unesco elogia os esforços e as metas do governo - alfabetizar 10 milhões em cinco anos, erradicar o analfabetismo até 2015 -, mas mostra que já foram feitas várias campanhas e ações, do Mobral ao Alfabetização Solidária, e os resultados não foram permanentes.

O País ainda é um dos 12 com o maior número absoluto de analfabetos e concentra hoje 1,9% da população mundial que não sabe ler e escrever - o índice era 2% em 1998.