Título: Dirceu diz que sua situação 'mudou da água para o vinho'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Nacional, p. A9

Com a ajuda do petista Virgílio, ele calcula ter 200 votos contra a sua cassação

Com julgamento marcado para o próximo dia 23 no plenário da Câmara, o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), calculou que sua situação "melhorou muito" diante da opinião pública depois que ele ganhou sobrevida, com os inúmeros recursos à Justiça. "Mudou da água para o vinho", avaliou. Apesar de todas as evidências indicarem que Dirceu será cassado, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) - espécie de ajudante-de-ordens do ex-ministro no "mapeamento" dos votos - jura que haverá surpresas. Os cálculos de Virgílio mostram que o ex-ministro já contaria com o apoio de 200 dos 512 parlamentares. Se houver 257 votos a favor da cassação, Dirceu ficará inelegível por 8 anos.

Na noite de ontem, o ex-ministro aproveitou a fila de votação para julgar Sandro Mabel (PL-GO), que acabou absolvido, para fazer corpo-a-corpo com os colegas no plenário.

"Não estou entrando com recursos para postegar meu julgamento nem para fazer chicana", disse ele ao deputado Milton Monti (PL-SP). "Acontece que meu processo está cheio de erros jurídicos."

Na contabilidade de seu gabinete, Dirceu já conversou com 300 parlamentares. Conseguiu até mudar a opinião de colegas da esquerda do PT. "Os episódios em apuração trouxeram gravíssimas conseqüências ao PT e ao governo, mas não há prova objetiva que caracterize o envolvimento de Dirceu nesse escândalo", argumentou o deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS).

Dirceu sentiu-se vingado com as críticas feitas na terça-feira pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao ajuste fiscal proposto pela equipe econômica. Em conversas reservadas, disse que Dilma verbalizou o que todos os ministros gostariam de tornar público. "Ninguém é mais governista do que eu. Mas é preciso repactuar a política econômica", insistiu.