Título: Mercado reage bem a teste de Palocci
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

O mercado financeiro reagiu de forma positiva ao depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Para analistas e investidores, embora a situação ainda seja delicada e cheia de incertezas, o ministro conseguiu passar por mais um teste. Ao contrário da segunda-feira, em que muitos apostavam na saída de Palocci ainda nesta semana, o mercado começa a enxergar possibilidades de ele permanecer no cargo. Mas a passagem pela CPI preocupa e deve gerar turbulências, afirmam analistas.

Segundo eles, o ânimo exaltado da segunda-feira foi praticamente deixado de lado no início das operações de ontem. A explicação foi a decisão de Palocci de antecipar seu depoimento na CAE, o que deu boa sinalização ao mercado financeiro, afirmou o economista da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi. Com isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) operou durante todo o dia em terreno positivo e terminou em alta de 0,87%, em 30.482,1 pontos.

O dólar fechou em queda de 0,27%, cotado em R$ 2,204. Durante a manhã, no entanto, bateu a mínima de R$ 2,192, com recuo de 0,81%. No início da tarde, antes da chegada de Palocci ao Senado, o Banco Central anunciou um leilão de compra de dólar e contribuiu para diminuir a maior valorização do real ante a moeda americana. O risco país manteve-se estável durante todo o dia e fechou em 352 pontos, queda de 0,28%.

Para o economista-chefe do Deutsche Bank para Brasil e Chile, José Carlos Faria, o discurso de Palocci no Senado veio de acordo com as expectativas do mercado. "Sabíamos que ele ia se defender e reafirmar seu compromisso com a política econômica", comentou o executivo. Além disso, explicou ele, o fato de antecipar seu depoimento mostrou a intenção de permanecer no cargo e o apoio do presidente Lula ao ministro.

Na avaliação de Caramaschi, da Fator Corretora, a situação é frágil, mas o governo não dispõe de nenhum nome forte para substituir Palocci. Entre os cogitados até o momento, ele afirma que o mercado tem algumas restrições.

"No caso do senador Aloísio Mercadante, suas críticas à política fiscal feitas no passado não foram bem aceitas. O mesmo ocorre com o ministro Ciro Gomes, que discursava sobre a necessidade de renegociar a dívida interna do País. Isso não pega bem no mercado."

O economista afirma também que o investidor estrangeiro está muito confiante que, mesmo mudando o comando da Fazenda, a política econômica do País não mudaria. "Eles olham as coisas de forma menos apaixonada que o brasileiro. Estão focados na grande liquidez internacional e nas baixas taxas de juros americanas e européias, que os fazem buscar melhores retornos nos países emergentes."

Outro ponto positivo foi o fato de PSDB e PFL decidirem não fazer questões políticas durante o depoimento de Palocci, afirmou o analista da Corretora Souza Barros, Hideaki Iha. "Eles pegaram mais leve nas perguntas, mas isso porque querem levá-lo à CPI", justifica ele. O ministro, no entanto, fez questão de se defender das denúncias.