Título: Câmara absolve Sandro Mabel
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Nacional, p. A8

Por 340 votos a 108, deputado do PL é o primeiro acusado do escândalo do mensalão a escapar de ser cassado em votação no plenário

O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), foi absolvido ontem por 340 votos a favor e 108 contrários. Foram registrados 2 votos nulos e 17 abstenções. Tornou-se, assim, o primeiro acusado pelas CPIs dos Correios e do Mensalão a livrar-se da condenação em processo de cassação por quebra de decoro parlamentar. Desta vez, ao contrário da sessão no Conselho de Ética do dia 1.º, quando foi absolvido por unanimidade - 14 votos a 0 -, Mabel não chorou. Agradeceu assim os votos pela manutenção do seu mandato: "Obrigado pela confiança, o Sandrão voltará a ser feliz." O relator do pedido de cassação, deputado Benedito de Lira (PP-AL), pediu o arquivamento do caso não por ter concluído que o líder do PL é inocente no escândalo do mensalão, mas por falta de provas.

Mabel alegou não ter nada a ver com o esquema. A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO), a quem ele teria oferecido R$ 30 mil por mês e R$ 1 milhão no fim do ano ara que mudasse de partido, depôs duas vezes no Conselho de Ética - numa delas, uma acareação com Mabel - e sustentou a sua versão. O deputado negou tudo. No seu discurso, disse que viveu um calvário nos últimos 153 dias. "É duro, é humilhante, é triste, triste para valer."

O processo foi aberto na Câmara a pedido do PTB, depois que o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) contou que Raquel Teixeira tinha dito ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que havia sido procurada com a proposta milionária. Mas o governador, que falou do mensalão ao presidente Lula, mandou depoimento ao Conselho de Ética no qual desautorizou Raquel. Entre o dito pelo não dito, Benedito de Lira preferiu arquivar o processo, por falta de provas.

Curiosa foi a participação de Leréia na sessão que absolveu Sandro Mabel. Ele se inscreveu para falar pela cassação. Mas pregou a absolvição. Disse que o deputado é um "dos empresários mais sérios de Goiás (ele é dono das Bolachas Mabel) e que paga todos os direitos de seus funcionários em dia."

Leréia acabou por ser advertido pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), porque o regimento veta que alguém use o subterfúgio de se inscrever para falar contra ou a favor e fazer o contrário. Leréia tentou, depois, explicar seu comportamento: "O Conselho de Ética não encontrou provas contra Sandro Mabel. Por isso, pedi a sua absolvição."

A absolvição de Mabel não deve significar um alívio para os outros 13 deputados que respondem a processo por quebra de decoro parlamentar acusados de envolvimento no mensalão.