Título: Emprego industrial cresce 0,6%
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

O emprego na indústria brasileira cresceu 0,6% em setembro na comparação com agosto, de acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Isabella Nunes, economista da instituição, o aumento pode significar uma expectativa favorável dos empresários para o último trimestre do ano, mas não acena com uma reação mais forte do mercado de trabalho do setor. Ela argumenta que, em relação a setembro do ano passado, a ocupação na indústria ficou estável, com variação zero, após 19 meses consecutivos de alta. Para Marcelo de Ávila, analista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os dados apurados pelo IBGE mostraram estagnação em setembro e confirmam que o emprego industrial vem respondendo com muita velocidade à perda de ritmo da economia. Para ele, o mau desempenho no mês é agravado pelo fato de que setembro, às vésperas do fim do ano, costuma revelar um aquecimento na ocupação.

Além disso, Ávila destacou que os dados de comparações trimestrais também estão muito próximos de zero, confirmando a desaceleração. No terceiro trimestre, houve aumento de 0,4% ante igual trimestre do ano passado, mas também houve queda de 0,3% ante o segundo trimestre deste ano. Em 2005, de janeiro a setembro, a ocupação industrial acumula aumento de 2,3% e de 2,6% em 12 meses.

"Apesar do aumento ante o mês anterior, os dados do emprego são coerentes com o cenário de desaceleração da produção", observou Isabella Nunes, do IBGE. Segundo ela, na comparação com igual mês do ano anterior, os setores que mais contribuíram para impedir o crescimento da ocupação foram os de calçados e de madeira, ambos voltados para exportação, que estão passando por maus momentos em conseqüência da valorização do real.

Os segmentos que evitaram a queda no indicador também são voltados para exportação, mas estão sendo menos prejudicados pelo câmbio, como alimentos e bebidas e meios de transporte.

RENDIMENTO

A folha de pagamento real da indústria registrou queda de 1,3% em setembro, ante agosto, mas, para Isabella Nunes e Marcelo de Ávila, o recuo não revela ainda retrocesso nos ganhos recentes dos trabalhadores do setor. "A folha é muito mais volátil que o salário porque incorpora qualquer ganho extraordinário", comentou Isabella.

Segundo a economista, o recuo na folha ocorreu após um crescimento de 1,9% em agosto ante julho. Ou seja, o aumento anterior não foi anulado, tanto que o índice de média móvel trimestral, considerado o principal indicador de tendência, permanece estável.

Isabela também destacou o crescimento de 3,7% na folha ante setembro do ano passado. "Os dados da folha ante 2004 têm mostrado ganhos significativos, que estão assentados no controle inflacionário", disse ela.

Segundo Isabella, no caso da folha de pagamento, é mais importante avaliar os dados comparativos com igual período do ano anterior do que com o mês imediatamente anterior. "Mesmo com o ajuste sazonal, esse dado é muito volátil", explicou.

Para o economista do Ipea, é preciso esperar os dados da folha de pagamento da indústria em outubro para verificar o quanto pode ser preocupante a queda registrada em setembro ante agosto. "Se houver uma nova queda, pode ser uma clara quebra da tendência de tentativa de crescimento (da folha de pagamento)", disse ele. No ano, a folha real acumula aumento de 4% e em 12 meses, de 5,5%.