Título: Uma anfitriã avessa à liberdade dos internautas
Autor: Otávio Dias
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

É irônica a realização da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação na Tunísia, já que o país é conhecido por cercear a liberdade de expressão e, mais, por bloquear sites que o governo considera inadequados. Há, inclusive, denúncias de que ativistas do país foram impedidos de participar do evento. Entidades de defesa dos direitos humanos organizaram um encontro paralelo, a Cúpula dos Cidadãos sobre a Sociedade da Informação, mas o governo, na última hora, retirou a licença para sua realização e impediu jornalistas estrangeiros de ir à coletiva de imprensa do grupo.

Robert Menard, secretário-geral da ONG Repórteres sem Fronteiras, que denuncia a censura ao trabalho jornalístico, disse que foi impedido de se credenciar para o evento. "Banir o chefe de uma organização internacional que defende a liberdade de expressão é inaceitável."

A ONU tem sido criticada por não dar o devido peso à censura à internet em vários países e por concordar que a Tunísia sediasse o evento. Para o secretário-geral da organização, Kofi Annan, a realização da conferência no país será positiva à liberdade de expressão no país a médio prazo. "Não estamos fazendo esta cúpula para termos efeitos imediatos, mas no futuro."

A questão da censura e da liberdade de expressão também foi abordada no debate sobre a criação de um fórum internacional para gerir a internet. Um dos argumentos dos EUA ao se opor à medida foi o de que uma maior influência de governos pode resultar em maior censura na rede. Citou Irã, China e Cuba, que defenderam a criação do fórum e são conhecidos por censurar o acesso à internet. Mas há países que não censuram a internet e são favoráveis a uma gestão internacional, entre eles Brasil, Índia e os países da União Européia.