Título: Depoimento de petista é suspenso
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Nacional, p. A6

Soraya Garcia falaria de esquema de caixa 2 no PT do Paraná

Foi cancelado em circunstâncias inexplicadas o depoimento da ex-secretária do PT Soraya Garcia, marcado para ontem na CPI dos Correios. Ela denunciou um esquema de caixa 2 no PT do Paraná que envolveria o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula. O blog do jornalista Ricardo Noblat, hospedado no portal do Estadão na internet, noticiou no começo da tarde de ontem que o depoimento havia sido cancelado por interferência do próprio Lula. Segundo o blog, Lula fez a solicitação ao presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), em encontro pela manhã no Planalto.

Soraya e os advogados foram informados sobre o cancelamento com a explicação de que seria transferido para outra data porque o presidente da CPI não poderia estar presente. "Eu estou aqui e poderia tomar o depoimento. Quem não pode estar é o senador Delcídio", argumentou o sub-relator Gustavo Fruet (PSDB-PR). Diante da inconformidade dos advogados, Fruet disse: "Foi Lula que pediu a Delcídio para cancelar o depoimento". Um assessor de Fruet contou a história ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que foi ao plenário do Senado e lá discursou sobre a suposta interferência do presidente Lula.

Tocou o celular de Fruet. Era Delcídio. Estava furioso com o discurso de Dias e o vazamento da história. A parte do diálogo que agora segue foi reproduzida por Fruet a um assessor: "Se o negócio está nesse pé, eu devolvo a sub-relatoria", respondeu Fruet a Delcídio. "Se o PSDB está roendo a corda eu também sei jogar pesado", retrucou o senador. "Então fique com o cargo", devolveu Fruet.

A expressão "roer a corda" tem a ver com um acordo firmado pelos senadores Aloizio Mercadante, líder do PT, e Arthur Virgílio, líder do PSDB, e aprovado por Delcídio. Como o depoimento de Soraya não interessava ao PT e ao governo, Mercadante ameaçou chamar para depor na CPI o lobista mineiro Nilton Monteiro, que contou à revista IstoÉ que Marcos Valério pagara uma dívida do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), em 1998.

Delcídio e Fruet negaram a interferência de Lula. Os parlamentares afirmaram que o depoimento foi cancelado porque o dia estava tumultuado em razão da elaboração do relatório parcial da comissão, que será divulgado hoje.