Título: Planalto manobra para barrar prorrogação de CPI
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Nacional, p. A6

Presidente Lula pressiona e Renan Calheiros adia leitura de requerimento; oposição ameaça retaliar, paralisando votações enquanto novo prazo não sair

Sob o comando direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o governo promove uma operação para impedir que os trabalhos da CPI dos Correios sejam prorrogados para 11 de abril, invadindo o ano eleitoral. Intermediários do Planalto passaram o dia de ontem à procura dos 205 deputados e 30 senadores que assinaram o requerimento de prorrogação. Tentavam convencê-los a retirar as assinaturas. Renan abriu caminho para a manobra, adiando a leitura do requerimento esperada para ontem. Sob protesto dos oposicionistas, decidiu que primeiro era preciso conferir as assinaturas e remarcou para a manhã de hoje a leitura - procedimento que prorroga automaticamente os trabalhos. A oposição ameaça paralisar as votações se ele não for lido. "Se a leitura não for feita, a situação no Congresso vai azedar de vez", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN).

De manhã, Lula pediu aos aliados que trabalhassem para evitar a prorrogação, mas o requerimento já fora apresentado. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), irritado, chegou a cobrar o PFL e o PSDB, queixando-se de que não tinha sido consultado.

Renan disse, ainda, que a CPI precisava apresentar mais resultados: "A sociedade cobra isso. O único resultado até agora foi a apresentação do relatório com o nome de 19 parlamentares. É preciso mais que isso." À noite, informações preliminares davam conta de que 20 parlamentares tinham retirado suas assinaturas.

A oposição já tem uma estratégia para o caso de a manobra do governo dar certo: ameaça criar outra CPI, se a dos Correios terminar em dezembro. "O encerramento da sessão é a concessão de tempo para que o governo negocie a retirada de assinaturas, impedindo a continuação das investigações das irregularidades cometidas no governo e pelo PT", acusou o líder de minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).