Título: Daniel vai produzir aeromodelos; Cristian quer trabalhar em oficina
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Metrópole, p. C3

Irmãos estavam bem adaptados à vida na cadeia, onde até conheceram primo de Suzane

Mesmo preso na Penitenciária de Iperó pelo assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen, Daniel Cravinhos foi procurado por um empresário, interessado em que produzisse aeromodelos. Como estava na expectativa da libertação, recusou a oferta. Agora, segundo o pai, Astrogildo, Daniel vai aceitar a proposta de trabalho e quer voltar à faculdade de Direito - ele cursava o primeiro ano quando foi detido. O irmão, Cristian, pretende trabalhar numa oficina de motocicletas. "Já conversamos sobre isso", disse o pai, preocupado em que os filhos retomem as atividades, enquanto esperam o julgamento. No período da prisão, os Cravinhos não receberam visitas íntimas. Todos os fins de semana eram visitados pelos pais e, eventualmente, pela avó paterna, Inês, de 81 anos. Eles até conheceram na prisão um primo de Suzane, condenado por assalto. O rapaz foi transferido há alguns dias, depois de se envolver em uma briga.

PESSOAS DIFERENCIADAS

Apesar de a penitenciária, de segurança máxima, abrigar até integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), os irmãos não tiveram problemas de relacionamento, segundo a diretora de Reabilitação, Silvana Sônego Severino. "São pessoas diferenciadas, bem articuladas, diferentes da nossa clientela usual." Ela negou que eles tenham sofrido constrangimentos como ocorreu com Suzane, hostilizada na cadeia.

Os irmãos souberam do habeas-corpus na terça-feira à noite, pelo noticiário da TV. "Eles vibraram e se abraçaram como se o time deles tivesse feito um gol", contou um carcereiro. O presídio, com capacidade para 852 detentos, tinha 1.230 ontem. Outros 145 detentos estavam no anexo, destinado ao regime semi-aberto.

Os irmãos ocupavam a cela 141 do Pavilhão 1 com dois outros detentos - a maioria das celas do presídio tem oito presos. Os Cravinhos tinham aparelho de televisão e rádio na cela, dotada de vaso sanitário e chuveiro. Faziam ali as três refeições e passavam pelo menos sete horas por dia no pátio.