Título: Indústrias prevêem um futuro seguro e limpo
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Proálcool 30 anos, p. H6

A indústria automobilística aposta que o álcool tem lugar cativo pelo menos nos próximos 50 anos na matriz de combustíveis do Brasil, único país que tem carros movidos com 100% do derivado da cana-de-açúcar. Além disso, deve ser fonte base de geração do hidrogênio para os carros do futuro, mais limpos que os atuais. Considerado importante elemento orgânico e renovável, o álcool pode alimentar a célula de combustível para conversões em hidrogênio e fazer a transição para os carros elétricos, projeto da indústria do mundo todo.

O coordenador do Grupo Etanóis do Instituto de Engenharia da USP, Luiz Celio Bottura, diz que o Brasil "é o país mais adiantado para produzir hidrogênio de uma fonte renovável e não poluente". O instituto estuda um sistema que poderá ser instalado nos postos para conversão direta de álcool em hidrogênio. "O mundo não tem o etanol, por isso nossa vantagem é fantástica", diz Bottura.

O programa brasileiro do álcool também ganha visibilidade internacional diante da alta de preço do petróleo e da necessidade de lidar com mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa, que tem na queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) sua principal fonte. A idéia da mistura estabelecida pelo Proálcool há 30 anos está sendo intensificada na Europa - que já usa 5% de álcool na gasolina e estuda ampliar a participação para 10% -, nos EUA e já foi aprovada no Japão, que adotará proporção inicial de 3%. Canadá, Venezuela, Colômbia e outros países também devem seguir a receita.

"O caminho percorrido pelo Brasil há três décadas começa a ser seguido por outras nações", confirma Fábio Ferreira, gerente de desenvolvimento de produto da Bosch. Instalada no País há meio século, a fabricante de autopeças montou sua estrutura de engenharia de sistemas de injeção eletrônica no começo dos anos 80. Hoje, abastece a matriz nos EUA com peças preparadas para receber álcool, como bombas de combustível, e é uma das líderes no desenvolvimento do motor flexível.

Além de abastecer os cerca de 2,5 milhões de carros a álcool que circulam pelo País e de grande parte dos modelos flex, o álcool é adicionado à gasolina, numa proporção de 25%.

Ancorado em subsídios governamentais, o Proálcool colaborou para aumentar empregos na agricultura, ajudou a ampliar a produtividade do setor canavieiro e estimulou o desenvolvimento tecnológico da indústria automotiva. Entre 1984 e 1987, mais de 90% dos carros vendidos eram movidos a álcool. Com a crise de abastecimento, caiu em descrédito. Em 1997, apenas 0,1% da produção, ou 1.075 carros, saíram das fábricas com esse tipo de motor.

Agora, volta a ser vedete nos carros flexíveis, pois custa em média 65% do preço da gasolina. Uma nova crise de abastecimento está descartada. Para o presidente da Comissão de Assuntos de Energia e Meio Ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), Henry Joseph Junior, a falta de álcool passou a ser preocupação do produtor. "Se começar a faltar, o preço sobe e o consumidor vai abastecer com gasolina."