Título: Kirchner quer um Mercosul forte na Alca
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Economia & Negócios, p. B11

Presidente argentino decidiu pacificar relações com o Brasil e incluir a Venezuela no bloco

O presidente Néstor Kirchner decidiu revigorar o Mercosul, diante das pressões do colega americano, George W. Bush, de retomar as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Mas Kirchner não quer uma Alca à moda de Washington: "Não quero que só os grandes sejam favorecidos. Quero uma integração econômica, sem assimetrias, subsídios ou protecionismos", afirmou em comício em Buenos Aires. O plano do presidente argentino inclui a pacificação das relações com o Brasil e a inclusão da Venezuela - e seus petrodólares - no bloco do Cone Sul. Por isso, abandonou as críticas duras e as brigas com os países membros do bloco e passou a dar declarações de união e fraternidade. E isso se estende a todos os integrantes do governo: "Vamos trabalhar com muitíssima força" pelo Mercosul, destacou o chanceler Rafael Bielsa, que até o início do ano criticava o governo brasileiro.

Kirchner garantiu não ter desavenças com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Não brigamos pela liderança. Queremos construir uma América Latina grande e forte." E confirmou que encontrará Lula no dia 30, na ponte sobre o Rio Iguaçu, fronteira entre Brasil e Argentina. O encontro, que corria o risco de ser suspenso pelos argentinos, é simbólico. Há 20 anos, os então presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín iniciaram ali a integração regional que anos depois se transformaria no Mercosul. Mas a reunião também servirá para a assinatura de 20 protocolos de cooperação, que vão desde área nuclear à tecnologia espacial.

Em Buenos Aires, existe um especial interesse pela assinatura de um acordo que estabelecerá as Cláusulas de Adaptação Competitiva (CAC) que, espera o governo Kirchner, impedirá "invasões" de produtos de um país sócio do Mercosul em outro integrante. "É um mecanismo para evitar as assimetrias comerciais que ocuparam e preocuparam ao longo deste ano", explicou Bielsa.

Hoje, no Rio de Janeiro, negociadores do Brasil e da Argentina analisarão os detalhes dos protocolos a serem assinados. Na semana que vem, em Montevidéu, atual capital do Mercosul, chanceleres dos quatro países sócios discutirão a estratégia do bloco na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong, na qual o principal tema serão os subsídios agrícolas. Representantes dos quatro países do Mercosul apresentaram o protocolo para criar o Parlamento regional do bloco do Cone Sul, que iniciaria os trabalhos em 31 de dezembro de 2006. O Parlamento será composto por deputados eleitos em cada país. O número de representantes, porém, não será proporcional à população de cada país: o Brasil terá 38 parlamentares; a Argentina, 31; Uruguai e Paraguai, 18 cada um.

Num primeiro momento de transição, até 2010, os países terão representação igualitária. Em 2014, seriam realizadas eleições diretas e simultâneas para eleição dos deputados.

VENDAS

O mercado brasileiro é o principal destino das exportações argentinas, segundo a Fundação ExportAr, entidade financiada pelos setores privado e público. Em 2004, a Argentina exportou ao Brasil US$ 5,55 bilhões - até agosto, o total foi de US$ 4,51 bilhões.