Título: Expectativa é de aceleração do corte da Selic
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Para empresários, a queda na produção industrial reflete a demora do BC em reduzir a taxa de juros

Empresários e economistas avaliam que a queda de 2% na produção industrial de setembro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica a necessidade de uma aceleração no ritmo de corte da taxa básica de juros. Segundo eles, o Banco Central (BC) foi cauteloso demais na administração dos juros, com o argumento de que precisava manter sob controle a inflação. "A indústria vive um ambiente extremamente hostil, com juros absurdos e dólar na casa de R$ 2,19", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na avaliação de Francini, a demora e o gradualismo do BC para reduzir os juros comprometeram a produção industrial de todo o segundo semestre deste ano. "A produção para o Natal já está dada. Alguns setores até apresentarão alguma recuperação, em novembro, mas para a maioria não há expectativa de melhora."

Para o diretor da Fiesp, o BC deveria abandonar o gradualismo e reduzir a Selic em 1,5 ponto porcentual já na reunião deste mês. "A curva da produção é declinante e começa a comprometer o primeiro trimestre do próximo ano."

"O BC exagerou no remédio", diz Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Tabacof enxerga nas declarações recentes de integrantes do próprio governo a disposição para cortes maiores nos juros. Ele se referiu à entrevista do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao Estado, em que ele disse que a economia brasileira vem perdendo força nos últimos meses, o que poderia justificar um afrouxamento na política monetária.

Esse cenário, segundo o empresário, teria sido endossado pela ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que descartou um aumento na atual meta de superávit fiscal, fixado em 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2005 e 2006. Dilma é hoje uma voz contrária à proposta do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, de aumentar ainda mais a economia para pagamento dos juros da dívida.

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, vê espaço para cortes mensais de 1 ponto porcentual na Selic nos próximos três meses, de forma a chegar a 16% ao ano no início de 2006. "Isso daria fôlego para uma retomada do crescimento econômico no primeiro semestre." Para este ano, segundo ele, o crescimento deve variar entre 3% e 3,5%.

O ex-presidente do BC Gustavo Franco observa que uma queda brusca dos juros serviria também para mudar a tendência de valorização do real em relação ao dólar. No entanto, ele não acredita em cortes mais acentuados na Selic.

Para o economista, que participou ontem de seminário em São Paulo, o recuo da produção industrial em setembro é mais um dado que reforça a necessidade de redução da taxa básica. "Mesmo assim, não muda a filosofia básica do Banco Central, que é a de promover cortes graduais nos juros." Marcelo Rehder, Jander Ramon e Paula Puliti

ESFORÇO: O economista Affonso Celso Pastore acredita que o Brasil "vai ter de suar muito a camisa" para conseguir crescer 3% neste ano. Segundo o ex-presidente do Banco Central (BC), a produção industrial medida pelo IBGE em setembro (-2%) e a utilização da capacidade instalada (80,1%), divulgadas ontem pela CNI, são muito ruins e mostram que há todas as condições para acelerar a queda do juro.

Pastore destacou que, apesar da queda brusca na produção industrial, a formação bruta de capital fixo não caiu, porque a fabricação e a importação de máquinas estão fortes.

Ele admitiu que o BC não pode adotar medidas bruscas, que surpreendam o mercado. Mas precisa sinalizar, de maneira mais consistente, as intenções de cortes na Selic. "A taxa de juros está muito alta e, se o BC tiver de dar uma resposta racional a isto, tem de acelerar a redução da Selic", afirmou o economista, que participou do 2.º Seminário Anbid de Mercado de Capitais, em São Paulo.

As exportações brasileiras, acrescentou, só não "derreteram" por causa da forte valorização do real, porque o cenário internacional é muito positivo. No entanto, ressaltou, é preciso que o governo se preocupe mais com o câmbio e reconheça o efeito que os juros têm sobre o real.