Título: Remédio fracionado enfim à venda
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Vida&, p. A20

Dois laboratórios nacionais são os pioneiros na produção de remédios fracionados no Brasil. A notícia chega seis meses depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter autorizado o comércio de medicamento com esse tipo de embalagem, unitária. O Medley foi o primeiro a pedir autorização - e por enquanto o único a recebê-la. Há apenas uma semana, a empresa farmacêutica lançou no mercado o antibiótico cefalexina.

Tradicionalmente, o cefalexina é vendido em embalagens mínimas de oito comprimidos. O fracionado do laboratório pode ser vendido em blisters (embalagem de alumínio) com duas unidades. "Ainda estamos testando o mercado. Lançamos 2 mil unidades num primeiro momento, mas temos gás para muito mais. Investimos R$ 1,5 milhão na adaptação das máquinas", avalia Jairo Yamamoto, presidente da empresa.

O teste, no entanto, não vai servir só para analisar o perfil do consumidor, mas testará a capacidade de as farmácias se adaptarem à venda do fracionado (ver quadro ao lado).

Por enquanto, a venda tem sido feita em pouquíssimos lugares - enquanto o laboratório tem de pedir autorização para a Anvisa, o aval às farmácias é concedido pelas vigilâncias sanitárias locais. O remédio da Medley está à venda, por exemplo, em farmácias no Recife e em Vitória. Algumas ainda sem autorização. "Não temos o aval formal da vigilância, compramos há três dias de distribuidores algumas caixas do cefalexina (o remédio da Medley chega às farmácias em embalagens de 40 unidades, para serem fracionados em duplas pelo farmacêutico) apenas para testarmos a reação do consumidor", diz Manoel Viguini, diretor comercial da Farmácia Santa Lúcia, em Vitória. "Posso dizer que a reação tem sido ótima. O consumidor não sabe que já existe fracionado. Quando alguém chega com a prescrição do cefalexina, falamos do fracionado. A maioria opta por ele."

Em São Paulo, de acordo a Vigilância Municipal de Saúde, nenhuma farmácia se cadastrou para vender o fracionado. No Rio Grande do Sul, a rede Panvel havia entrado com pedido, mas, hoje, segundo a vigilância local, não há mais farmácias cadastradas. Em 28 de outubro, 70 farmácias de Santa Catarina se inscreveram para vender fracionados - o maior grupo a fazer isso até hoje.

O maior lançamento de remédios fracionados, porém, deverá ocorrer no início no ano que vem. Há três meses, o Grupo EMS-Sigma Pharma pediu autorização na Anvisa para lançar 80 remédios fracionados. "Cerca de 20% deles serão de uso contínuo, como o captopril e o maleato de analapril (os dois são para pressão alta). O resto, de uso eventual", adianta Eduardo Guedes, gerente de Marketing do grupo.

Entre os medicamentos de uso eventual, o laboratório vai lançar o diclofenaco potássico (antiinflamatório), o cloridrato de ranitidina (para úlcera) e o cefalexina. Mesmo sem o aval formal da Anvisa, o grupo investiu U$S 1,5 milhão em máquinas apropriadas para a fabricação de embalagens fracionadas. A autorização da Anvisa é concedida para cada remédio.

Curiosamente, a maioria dos remédios que serão fracionados pelo grupo EMS será de genéricos. Também é genérico o produto lançado primeiro pela Medley. "A idéia é atingir o maior número possível de pessoas e isso só pode ser feito com o genérico", conta Yamamoto.

Vale lembrar que a venda do fracionado não é obrigatória, nem para as farmácias nem para os laboratórios.