Título: EUA usaram arma proibida pela ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Internacional, p. A14

Depois de negar insistentemente ter usado fósforo branco contra seres humanos no Iraque, ontem o Departamento de Defesa dos EUA (Pentágono) admitiu que, de fato, bombardeou a cidade de Faluja, em 2004, com esse material. Agora, porém, o Pentágono garante que seu alvo eram rebeldes iraquianos, e nunca os civis, e alega que não está ferindo nenhum acordo internacional. "Usamos como qualquer outra arma convencional", disse o porta-voz Bryan Whitman. "Sugerir que as forças americanas atacam civis seria um erro. Fazemos o possível para evitar baixas entre os civis e danos colaterais." Segundo o Pentágono, o fósforo branco foi usado para desalojar "rebeldes escondidos em covas ou em outras posições das quais não havia como removê-los de outra maneira".

A questão se tornou polêmica depois que a TV italiana RAI exibiu, na semana passada, um documentário sustentando que o produto havia sido lançado durante a ofensiva americana em Faluja, em novembro de 2004. De acordo com a RAI, o material foi jogado de "modo maciço e indiscriminado". Uma das testemunhas da TV era o ex-marine Jeff Englehart, que dizia ter visto corpos carbonizados de mulheres e crianças. De imediato, o Pentágono desmentiu a informação e assegurou que o fósforo branco fora utilizado só para "iluminar as áreas ocupadas por rebeldes".

A confirmação do uso contra seres humanos deixa os EUA numa situação incômoda. Afinal, o país justificou sua invasão do Iraque como meio de eliminar as supostas armas químicas, biológicas e nucleares do governo de Saddam Hussein, que nunca foram encontradas.

O fósforo branco é um produto químico que reage espontaneamente quando exposto ao oxigênio. Emite uma densa nuvem de fumaça branca que pode causar queimaduras profundas e dolorosas. Se uma pessoa for atingida, pode queimar até o oxigênio extinguir-se do corpo.

Não é considerado uma arma química pelos tratados internacionais. Trata-se de uma arma incendiária, cujo uso contra civis ou forças inimigas em áreas civis é proibido pelo 3.º Protocolo da Convenção sobre Armas Convencionais da ONU, firmada em 1980 - do qual os EUA não são signatários. Um projétil com esse material pode iluminar uma área de 1 quilômetro quadrado por alguns minutos. Normalmente os militares recorrem ao fósforo branco para iluminar os alvos ou proteger suas tropas da visão do inimigo. Alguns peritos argumentam, porém, que esse uso viola a Convenção sobre Armas Químicas, que bane qualquer "químico tóxico que possa causar morte, danos ou incapacitação temporária de homens ou animais".

No documentário da RAI, o biólogo iraquiano Mohamed Tariq al-Deraji, diretor do Centro de Estudos para os Direitos Humanos de Faluja, exibiu vídeos e fotos de cadáveres com a pele queimada e a roupa intacta, como acontece nos casos de exposição ao fósforo branco.

Uma equipe iraquiana de defesa dos direitos humanos foi para Faluja investigar o caso. Ontem, o secretário de Defesa da Grã-Bretanha, John Reid, disse que as forças britânicas usaram o produto no Iraque apenas como "nuvem de fumaça para proteger as tropas em ação".

9 AMERICANOS MORTOS

Cinco fuzileiros navais americanos foram mortos ontem e 11 ficaram feridos durante uma operação militar na cidade de Obeidi, a oeste de Bagdá. Segundo um porta-voz das forças americanas, 16 rebeldes morreram nos ataques à cidade, situada perto da fronteira da Síria. Um outro soldado dos EUA faleceu em conseqüência de ferimentos num ataque na terça-feira. No total, nove militares americanos morreram entre terça-feira e ontem - número bem acima da média de dois por dia, registrada até o primeiro semestre deste ano.

O diário The Guardian informou ontem, citando fontes oficiais, que a Grã-Bretanha espera começar a retirar suas tropas do Iraque a partir de maio e já discute o calendário com o governo local.