Título: Palocci se explica no Senado, mas continua na mira da CPI
Autor: Ariosto Teixeira e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Nacional, p. A4

A intenção parecia das melhores: empenhado em reduzir a pressão a que está submetido, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, antecipou para ontem a sua ida à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, antes prevista para o dia 22. Mas a estratégia deu errado. O objetivo era abrir um foro para Palocci se explicar e evitar a sua convocação para a CPI dos Bingos, que investiga denúncias de corrupção durante a gestão do ministro na prefeitura de Ribeirão Preto.

Mas a iniciativa não consultou a oposição, que, irritada, praticamente decretou a convocação do ministro pela CPI . Numa reação à manobra dos governistas, a oposição foi à reunião da CAE, mas se recusou a questionar Palocci sobre as denúncias feitas contra ele por seus ex-auxiliares na prefeitura, prolongando o clima de tensão em torno do ministro.

Surpreendidos com a antecipação do depoimento, definida durante o feriado, os dois principais partidos da oposição - PSDB e PFL - interrogaram Palocci apenas sobre a política econômica e sobre suas divergências com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Sobre as coisas de Ribeirão Preto, ficou a palavra dele", resumiu o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), insinuando que logo chegará a hora em que o ministro será interrogado para valer pelos parlamentares.

A antecipação do depoimento foi interpretada como uma tentativa de ludibriar o Senado e suas comissões de inquérito. Além disso, quebrou-se definitivamente o pacto informal com a oposição para preservar o ministro e evitar que a economia venha a ser contaminada pela crise política.

"Em um país normal, ele teria saído daqui hoje como ex-ministro", afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que até recentemente defendia a blindagem do ministro, ao constatar o fracasso da estratégia do Palácio do Planalto.

DATA DO DEPOIMENTO

A data do depoimento de Palocci na CPI será definida na próxima semana. O relator da comissão, Garibaldi Alves (PMDB-RN), que propunha adiar ao máximo a convocação do ministro, mudou de idéia. Segundo ele, a fala não respondeu às denúncias e Palocci terá mesmo de depor. "Em termos de CPI, seu comparecimento à CAE foi frustrante", alegou. Garibaldi não foi consultado sobre a antecipação do comparecimento do ministro e só soube da mudança pela imprensa.

O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), também não foi ouvido. Ontem, defendeu que "nada altera a necessidade de o ministro depor na comissão". "O depoimento de hoje (ontem) não impede que a CPI vote imediatamente o requerimento convocando Palocci", defendeu. O senador José Jorge (PFL-PE) está pronto a apresentar um requerimento de convocação se o senador Geraldo Mesquita (Sem partido-AC) retirar o dele: "Na CPI, vamos ouvi-lo sobre o superfaturamento de contratos para abastecer o caixa 2 do PT e negócios escusos com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal", justificou.

TRATAMENTO ESPECIAL

O tratamento dispensado pela oposição ao ministro Palocci foi acertado numa reunião de mais de três horas das bancadas de senadores do PSDB e do PFL. A idéia inicial era não comparecer à exposição do ministro na CAE, mas acabou prevalecendo a proposta de restringir as perguntas a questões afetas à economia, deixando claro que o foro para tratar de denúncias é a CPI dos Bingos. "Fazer o contrário seria desprestigiar as apurações das CPIs", explicou o líder pefelista José Agripino (RN).

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), criticou a forma como foi feita a mudança, sem ouvir os dirigentes da comissão: "Cada assunto tem o foro certo. Não seremos nós a ignorar essa boa prática", esclareceu.

Para Agripino, a forma como o PT mudou de estratégia sem ouvir os parlamentares da oposição, mostra falta de coordenação. "Eu recebi um recado que (Aloizio) Mercadante (líder do governo) tinha ligado, mas somente hoje, na reunião com as bancadas da oposição, é que ele voltou a ligar", informou. José Jorge disse que sua mulher recebeu uma ligação "do Palácio do Planalto" e achou que era trote. A assessoria de Mercadante repetiu a explicação que ele próprio tinha dado na reunião CAE: ligou para todos os líderes de oposição e só não teria conseguido falar com José Jorge, que estava num vôo.

A senadora petista Ideli Salvatti (SC) atribuiu a pressa da operação à necessidade de o ministro da Fazenda dar uma satisfação ao mercado. Para ela, cabe igualmente à oposição se preocupar com os possíveis danos que os ataques a Palocci causam à economia.