Título: 'Não houve recursos de Cuba, das Farc nem de Angola'
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Nacional, p. A5

Na parte final do pronunciamento de 50 minutos à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, negou categoricamente, que a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha recebido dinheiro do exterior. "Não há recursos de Cuba na campanha do presidente Lula, não há recursos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), não há recursos de Angola. Afirmo com segurança porque participei integralmente da campanha e sei que não aconteceram (doações de outros países)", disse Palocci, falando no assunto por iniciativa própria. O ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto Rogério Buratti disse à CPI dos Bingos que foi consultado por outro colaborador, Ralf Barquete, já falecido, a pedido do ministro, sobre a melhor maneira de trazer US$ 3 milhões de Cuba ao Brasil, na campanha de 2002. Há informações de que Buratti tenha dito ao Ministério Público de São Paulo que houve doação de R$ 1 milhão de empresários angolanos de bingo, mas ele nega a denúncia.

Palocci avisou que se defenderia das denúncias envolvendo seu nome, por serem "questões que ferem a honra como pessoa, pai e profissional dedicado à questão pública". Fez muitas críticas à atuação do Ministério Público e da polícia na investigação de Ribeirão Preto. "Não me considero uma pessoa acima de qualquer suspeita. Vejo investigações desenfreadas com objetivos políticos claros".

Embora tenha abordado várias denúncias, em reação à tática da oposição de não falar no assunto para forçar a presença do ministro da CPI dos Bingos, Palocci falou apenas genericamente sobre cada uma delas.

Disse, por exemplo, que, como prefeito de Ribeirão Preto, jamais firmou contratos de saneamento, repelindo suspeitas de favorecimento de empresas prestadoras de serviço. "Os contratos foram feitos pelo governo anterior e prorrogados no governo sucessor (ao dele). E eu sou obrigado a pagar sistematicamente sobre isso."

Negou que tenha indicado antigo colaborador para cargo de direção na Visanet. A CPI dos Correios denunciou que, por meio da empresa, o Banco do Brasil transferiu dinheiro a agências de publicidade de Marcos Valério, sendo que R$ 10 milhões teriam sido repassados ao PT. "Essa pessoa entrou e saiu da Visa do Brasil em 2002. Nem no governo eu estava."

Também negou mesada de R$ 50 mil supostamente paga à prefeitura de Ribeirão, em sua gestão, pela empresa Leão Leão, para garantir contratos de limpeza urbana. A denúncia foi feita por Buratti. "Não houve mensalinho, mensalão, caixa 2. Aquela acusação de R$ 50 mil é falsa e não será comprovada. Sei o que fiz e o que não fiz. Isso eu não fiz." Disse que sofreu "devassas não constitucionais" em suas contas, na prefeitura de Ribeirão. "Esse filme passou em sessão local e agora se repete em circuito nacional."