Título: Meirelles admite: Brasil pisou no freio
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

Presidente do BC reconhece que economia não manteve crescimento no 3.º trimestre, mas descarta ligação com a crise política

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admite que a economia brasileira desacelerou no terceiro trimestre. Ele revela essa tendência, mas ainda assim mantém a previsão de 3,4% de crescimento da economia em 2005. Meirelles diz ainda não saber se o motivo é a crise política, mas aposta em um "Natal forte". O presidente do BC também indica que as taxas altas do superávit primário serão mantidas, mesmo com o debate no governo. A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida na Basiléia,onde Meirelles participa de reuniões com BCs de todo o mundo. Qual a avaliação do crescimento da economia brasileira que o sr. apresentou aos presidentes dos bancos centrais do mundo?

O que eu disse é que no Brasil, como em outros países, não há como ter crescimento linear do PIB. Tivemos um crescimento acelerado da economia no fim do ano passado, uma acomodação no primeiro trimestre de 2005 e finalmente um crescimento muito acelerado no segundo trimestre de 2005, quando a taxa anualizada chegou a 5,7%. Os indicadores agora são de que haverá uma taxa de crescimento bem menor no terceiro trimestre de 2005.

De quanto será a desaceleração?

Não temos ainda como saber. O BC não faz previsão trimestral. Mas já esperamos uma redução do ritmo de crescimento e estamos esperando uma aceleração no quarto trimestre. Por isso, a previsão de crescimento do ano continua sendo de 3,4%.

Qual o motivo da desaceleração do ritmo de crescimento?

O motivo é uma acomodação normal da economia pois o ritmo do crescimento foi elevado no segundo trimestre. Não há como ter taxa de crescimento igual em todos os trimestres.

Mas essa desaceleração não estaria ligada à crise política? O BID disse há poucos dias que, se crise política fosse resolvida, o País decolaria.

Ainda é prematuro dizer que a desaceleração está ligada à situação política. Temos que esperar os números do IBGE e analisá-los. A questão política terá de ser olhada e teremos de ver os níveis de confiança. Sobre o comentário do BID, acredito que seja algo mais relacionado com o médio prazo.

Se não é a crise política que afeta o crescimento, como o sr. avalia o fato de o Brasil manter uma certa estabilidade diante de tantos problemas envolvendo o governo?

No passado, tínhamos uma situação de déficit importante de conta corrente e por isso precisávamos financiamentos dos mercados internacionais. Isso fez com que o País estivesse muito mais vulnerável. No momento em que Brasil tem uma situação sólida interna e externa, com saldo comercial e criando empregos, tudo isso faz com que País fique menos dependente de avaliações subjetivas.

Isso quer dizer, então, que não haverá mudança de política econômica em 2006 durante a campanha eleitoral nem qualquer medida populista visando votos?

Não está nas minhas cogitações mudar a orientação de política macroeconômica.

Ouvem-se vozes no governo pedindo que o superávit primário não seja muito alto para que haja recursos para investimentos. O governo está de fato coeso sobre isso?

A política do governo tem sido coesa e as discussões são absolutamente normais. O importante é que se chegue a uma conclusão e ela seja implementada de forma coerente.

Então o superávit primário não está impedindo maiores investimento na área social?

Qualquer decisão econômica tem custos e benefícios. Não há dúvida de que todas as decisões têm seus custos. O importante é que o Brasil está adotando uma política econômica que está dando certo.

O ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, acusou o sr. de querer acabar com o BNDES. O que o sr. tem a dizer sobre isso?

Não vou fazer comentários. Só posso dizer que o BNDES tem um papel importante e vital na economia brasileira e vai continuar a ter esse papel.