Título: França impõe toque de recolher
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Internacional, p. A14

Governo descartou por enquanto o recurso às Forças Armadas para conter jovens. Morre primeira vítima da onda de violência

O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, anunciou no fim da tarde de ontem decisão do presidente Jacques Chirac de recorrer ao toque de recolher para conter a escalada da violência que tomou conta do país nas duas últimas semanas. Horas antes do pronunciamento de Villepin pela televisão, prefeito de Raincy, na Grande Paris, já havia imposto a medida em seu município por sua conta e risco.

Oficialmente, a lei passa a vigorar hoje, após sua publicação no Diário Oficial. Para impor o toque de recolher, o governo recorreu a uma lei aprovada em 1955 durante a Guerra da Argélia.

Desde então, essa é a primeira vez que a legislação é invocada no território continental francês. Em 1985, ela havia sido aplicada na Nova Caledônia, localizada no Pacífico Sul. Chirac dará detalhes dessa lei a seus ministros numa reunião de emergência do gabinete convocada para hoje.

"Os prefeitos poderão aplicar o toque de recolher, se julgarem a medida útil para a volta à normalidade", disse Villepin, acrescentando que eles terão apoio integral do Ministério do Interior. Para fazer frente a essa situação, ele disse que decidiu aumentar o efetivo da polícia, hoje estimado em 8 mil homens. "Vamos convocar 1.500 reservistas e colocar 9.500 homens nas ruas", destacou. Villepin afastou, pelo menos por enquanto, o recurso às Forças Armadas, mas fez questão de não descartar totalmente essa possibilidade.

Outra providência anunciada pelo primeiro-ministro: julgamento rápido dos mais de 100 detidos e punição exemplar dos culpados.

Enquanto Villepin falava, multiplicavam-se no interior os atos de violência como nas noites anteriores. Até às 23:00 locais, manifestantes de Toulouse, sudoeste francês, já tinham incendiado um ônibus, 20 automóveis e atacado uma delegacia de polícia com coquetéis molotov.

Mas o caso mais grave de ontem foi a morte de Jean Pierre Chenadeke, 61 anos. Ele não resistiu aos ferimentos recebidos em brutal agressão na sexta-feira por um grupo de jovens quando tentava apagar o incêndio de um coletor de lixo em Stain.

Em seu pronunciamento,Villepin reconheceu que o governo errou ao reduzir os investimentos nos subúrbios. Ele anunciou também planos para enfrentar o maior problema dos municípios pobres da Grande Paris habitados por imigrantes e filhos de argelinos, marroquinos e tunisianos: o desemprego. Em alguns desses municípios de 30% a 40% de seus moradores estão procurando trabalho.