Título: Toledo, bom na economia, mas péssimo na política
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Internacional, p. A12

A prisão que pode ser interpretada como um símbolo da volta efetiva de Alberto Fujimori ao centro da política peruana ocorre em meio a um curioso paradoxo. Embora os índices econômicos do Peru demonstrem bom crescimento nos últimos anos, o desencanto com o governo do presidente Alejandro Toledo também não pára de aumentar. Segundo o Banco Mundial, o Produto Interno Bruto peruano cresceu 3,8% em 2003 e 4% no ano passado - um dos melhores resultados entre os países da região. As exportações peruanas também cresceram e o desemprego formal recuou, mas Toledo, desde os primeiros meses de seu mandato, iniciado em 2001, tem a mais baixa popularidade entre os presidentes da América do Sul. No começo do ano, seu índice de aprovação não passava de 6%.

"Embora nunca tenha havido um ambiente externo tão favorável à economia, Toledo fracassou ao não empreender de forma convincente um esforço de reconstrução institucional do país", disse ao Estado o ex-presidente peruano Vladimir Paniagua, que assumiu o governo de transição após a renúncia de Fujimori, em 2000.

"O Estado peruano estava corroído pela corrupção e se esperava que Toledo conduzisse essa reconstrução. E isso não aconteceu", opina.

A desilusão com Toledo abre um flanco para o avanço de Fujimori, caso o ex-presidente saia da prisão e consolide sua candidatura à eleição presidencial de 2006. "Pode-se dizer que Toledo é um caso raro de ausência de carisma, liderança e habilidade para converter avanço econômico em dividendo político", explica Alfredo Torres Guzmán, diretor do instituto Apoyo Opinión y Mercado. "A mensagem de Fujimori, por seu lado, sempre chegou fácil às classes C, D e E. Esse não é só um fenômeno peruano. Nas sociedades latino-americanas em geral, as camadas mais pobres mostram-se mais receptivas a uma boa dose de populismo e autoritarismo."

Entre as bases do fujimorismo, nos morros que cercam Lima, o julgamento da administração de Toledo é sumário. "Deste governo nunca recebemos nada", disse ao Estado Ana González, coordenadora da cooperativa de artesãs Mujeres del Perú.