Título: A trajetória do agrônomo que foi presidente
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Internacional, p. A12

Alberto Fujimori sempre teve predileção por gestos teatrais e surpreendentes. Foi assim quando perpetrou um "autogolpe", em 1992, fechando o Congresso e dissolvendo o Judiciário do país. Ou quando apresentou numa jaula, no mesmo ano, o capturado líder máximo da guerrilha Sendero Luminoso, Abimael Guzmán. Foi assim quando convocou, em 2000 - meses depois da vitória eleitoral que lhe deu o quarto mandato -, nova eleição para o ano seguinte, da qual se comprometia a não participar. E não foi diferente em novembro de 2000, quando abandonou uma reunião de cúpula em Brunei e desembarcou no Japão, renunciando à presidência por fax, em meio a uma crise de compra de votos no Congresso para a aprovação de projetos do governo. Desde a primeira campanha para a presidência peruana em 1990, na qual derrotou o premiado escritor Mario Vargas Llosa, Fujimori demonstrou sua tendência ao populismo, à centralização e ao autoritarismo. Engenheiro agrônomo e reitor universitário que nunca tinha exercido nenhum cargo eletivo era, ao contrário de Vargas Llosa, praticamente desconhecido pelos peruanos. Concentrou sua campanha nas críticas ao governo de Alan García, cuja gestão econômica estatista isolara o país, e na promessa - que cumpriu - de conter a hiperinflação de até 7.600% ao ano e combater o terror do Sendero.

O esforço de combate à guerrilha o levou à associação com Vladimiro Montesinos, que se tornou seu chefe de inteligência e montou um imenso esquema de suborno e chantagem de políticos, jornalistas, juízes, chefes militares e empresários.

Na eleição de 1995, derrotou outra personalidade internacional do país, o ex-secretário-geral da ONU Javier Pérez de Cuellar. Fujimori administrou bem a crise de reféns iniciada em dezembro de 1996 com a tomada da embaixada do Japão por guerrilheiros do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA). Comandos militares invadiram a embaixada em abril de 1997, libertando os reféns e matando os 14 seqüestradores. Fujimori enfrentou ainda um conflito com o Equador, durante o qual apareceu de surpresa, em uniforme militar, no quartel-general em Piúra.