Título: Uma prisão capaz de mobilizar os fujimoristas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Internacional, p. A12

A chegada de Alberto Fujimori a Santiago é o ponto de partida do plano traçado por ele para voltar à presidência do Peru nas eleições de 2006. A opção pelo Chile se deu por razões estratégicas, num momento em que as sempre complicadas relações entre os dois países passam pela maior tensão dos últimos anos. Na semana passada, o Congresso peruano aprovou uma lei que fixa as bases para o estabelecimento da fronteira marítima entre os dois países - uma ação vista pelo Chile como violação de tratados firmados nos anos 50. Aparentemente, a equipe legal de Fujimori aposta que a divergência possa dificultar uma eventual aceitação pelo Chile de um pedido de extradição peruano. Acusado em 21 processos no Peru, Fujimori vê razões para crer que possa conduzir sua campanha eleitoral em liberdade ou, no mínimo, sob prisão domiciliar em solo chileno. Um dos casos que ancoram essas razões é o do ex-presidente argentino Carlos Menem, que passou anos sob liberdade vigiada no Chile, apesar de uma ordem de prisão contra ele da Justiça da Argentina. Além de Menem, dois ex-colaboradores de Fujimori - o jornalista Eduardo Calmell Solar e o publicitário argentino Daniel Borobio - também vivem no Chile sem maiores problemas, apesar de condenados pela Justiça peruana.

Mesmo a prisão de Fujimori na madrugada de ontem já parece favorecer seu projeto de concorrer a eleição: a massa de partidários do fujimorismo, dispersa e desmobilizada desde que ele abandonou a presidência em 2000, começou a se organizar para reivindicar sua libertação e retorno ao Peru para disputar a eleição.

Contra o plano de Fujimori existe o fato de o Chile ter vivido há poucos anos a situação de exigir de outro país, no caso a Grã-Bretanha, a libertação de um ex-chefe de Estado chileno acusado de vários crimes. O governo do Chile exigiu dos britânicos o direito de julgar o ex-ditador Augusto Pinochet, como hoje o Peru exige do Chile a entrega de Fujimori.