Título: Chile atende Peru e prende Fujimori
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Internacional, p. A12

Ex-presidente peruano chegou domingo a Santiago após 5 anos de exílio no Japão. Governo chileno diz que não vai expulsá-lo

O ex-presidente peruano Alberto Fujimori foi preso ontem de madrugada em Santiago, horas depois de chegar de surpresa ao Chile, após cinco anos de exílio no Japão. Acusado em 21 processos no Peru por delitos que vão de enriquecimento ilícito a falsidade ideológica e homicídio, Fujimori foi detido em cumprimento a um pedido feito à Interpol pela Justiça peruana. Imediatamente após a detenção, o governo chileno descartou a possibilidade de expulsar sumariamente o ex-presidente. Já o governo peruano formou uma comissão para agilizar o processo de extradição. Os advogados de Fujimori, por sua vez, entraram com um pedido de liberdade provisória. Segundo um tratado de extradição firmado por Peru e Chile, Fujimori poderá passar até dois meses detido em Santiago antes de o governo peruano formalizar seu pedido.

Há cinco anos - desde que Fujimori renunciou em meio a um escândalo de suborno e chantagem -, o governo do Peru vinha pedindo ao Japão a extradição do ex-presidente.

Fujimori havia anunciado semanas atrás que concorreria nas eleições presidenciais peruanas do ano que vem, em desafio à decisão do Congresso de novembro de 2000 - que cassou os direitos políticos do ex-presidente até 2011 - e dos processos criminais contra ele. Ele acrescentou depois que voltaria ao país para fazer campanha, apesar do risco de ser preso assim que chegasse ao aeroporto.

A polícia chilena deteve Fujimori no hotel onde ele estava hospedado em Santiago. O ex-presidente foi posto sob custódia da Justiça chilena na sede da Gendarmeria, também na capital chilena. A chegada de Fujimori a Santiago coincide com um dos mais delicados momentos da diplomacia entre Peru e Chile. Na quinta-feira, o Congresso peruano aprovou uma lei que fixa as normas para o estabelecimento dos limites marítimos entre os dois países. O Chile reagiu denunciando a violação de tratados anteriores sobre o tema.

Apesar do clima pesado, o presidente peruano, Alejandro Toledo, dirigiu-se ontem ao governo do Chile para agradecer pela prisão preventiva de Fujimori. "Quero expressar meu agradecimento público ao Chile por esse primeiro passo", disse Toledo. "Não permitiremos que (Fujimori) caçoe de todos nós pagando um avião de meio milhão de dólares, enganando a Interpol, achando que não existe Justiça."

As últimas pesquisas indicam que Fujimori teria cerca de 20% dos votos se as eleições de abril fossem hoje, mas seus adversários temem que esse número aumente com a aproximação da data da votação e a mobilização de seus partidários. Ontem, grupos de fujimoristas entraram em choque com sindicalistas na frente da embaixada chilena em Lima.

Para o ex-chanceler peruano Diego García-Sayán, Fujimori tem a capacidade de levantar dúvidas sobre a lisura das eleições.

"Ser fujimorista pode ser uma estupidez, mas não é crime", disse García-Sayán. "Se um grande número de pessoas lançar dúvidas sobre o processo eleitoral, ele pode ficar seriamente comprometido."