Título: Debate sobre Alca não volta tão cedo, prevê Argentina
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Nacional, p. A11

O governo Néstor Kirchner não acredita que a idéia da retomada das negociações sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) possa ir adiante durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), que será realizada em Hong Kong daqui a um mês. Depois de evidenciada a impossibilidade de avançar sobre a Alca durante a 4.ª Cúpula das Américas, encerrada sábado no balneário de Mar del Plata, o governo argentino define-se como "incrédulo" sobre as chances de que a integração hemisférica seja concretizada em pouco tempo. O vice-chanceler Jorge Taiana, em declarações ao jornal Página 12, afirmou que o Mercosul e a Venezuela não concordam com os países que sustentam que há condições para avançar na negociação da implantação da Alca. "Há 23 meses que não existem negociações nesse sentido. A Argentina considera que mudou a realidade continental, que existem diversos blocos que reúnem países com diferentes realidades. Não existe compatibilidade sobre os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos", disse.

"Nós somos mais céticos. Não existem no momento as condições para avançar com a Alca", continuou Taiana. O vice-chanceler considera que o tempo até a reunião de Hong Kong é curto demais: "Não é tempo suficiente para modificar posturas que estão muito arraigadas entre os países desenvolvidos sobre estes assuntos, ou seja, os subsídios agrícolas e o protecionismo a certos produtos e indústrias, que colocam nossas economias em desvantagem."

Enquanto as negociações sobre a Alca continuam em banho-maria, o Mercosul, que havia mostrado sinais de divisão ao longo do último ano e meio, com o fracasso da Cúpula das Américas aparece fortalecido. "O Mercosul saiu (da 4.ª Cúpula) muito consolidado", disse ontem o chefe do gabinete de ministros, Alberto Fernández. "O Mercosul não é um espaço a mais para a integração da América do Sul e da América, já que ele representa 75% do PIB sul-americano."

Braço direito de Kirchner, Fernández sustentou que, "nas atuais condições, é impossível" assinar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. "Nós não rejeitamos o livre comércio nem a globalização, mas consideramos que nas condições atuais não dá para discutir (um acordo hemisférico)."

Segundo Fernández, "o desafio da globalização não nos obriga a aceitá-la de qualquer forma". "É preciso aceitá-la com inteligência. A Alca não é uma coisa ruim, o que é ruim é querer implementá-la neste contexto."