Título: Na avaliação do Planalto, 'acabou blindagem'
Autor: Expedito Filho, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Nacional, p. A8

Governo considera que blindagem em torno do ministro acabou e é preciso retomar rapidamente diálogo com oposição

O governo está preocupado com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, alvejado por denúncias de corrupção em meio à interminável crise política. Avalia que ele sofre "perseguição", está na mira de tiro e não mais será poupado pela mídia. Em reunião da coordenação política, realizada ontem sem a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, auxiliares consideraram que "acabou a blindagem" em torno de Palocci. Apesar da aparente tranqüilidade do ministro, colaboradores do presidente acham que é preciso retomar o diálogo com a oposição o mais rápido possível. O PSDB e o PFL, no entanto, querem convocar Palocci para depor na CPI dos Bingos.

"O dia-a-dia entre governo e oposição não pode ser pautado por um jogo de escaramuças", disse o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner. "Vai haver o momento próprio de comparar os projetos e o que foi feito pelo governo do PT e do PSDB. Agora não é hora disso. Todo mundo sente que é preciso um ambiente de mais tranqüilidade."

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse, porém, não ver motivo para diálogo com um governo que, no seu diagnóstico, só quer guerra. "Nós tínhamos nos preparado para proteger Palocci e posso dizer até que impedimos a sua queda quando começaram a surgir as primeiras acusações. Havia uma blindagem em torno dele. Silenciamos. Mas amanhã mesmo (hoje) vou conversar com a bancada do PSDB e sentir o pulso do PFL. Acho que Palocci deve explicações e que Lula está morto para a eleição de 2006", disparou Virgílio.

Além da denúncia de que Vladimir Poletto, ex-auxiliar de Palocci, transportou até US$ 3 milhões oriundos de Cuba para o comitê de Lula, em 2002, outras acusações surgiram. Documentos em poder da CPI dos Bingos e do Ministério Público indicam que, em 2001 e 2002, a empresa Leão Leão pagou um mensalinho de R$ 50 mil para a prefeitura de Ribeirão Preto - então comandada por Palocci -, como mostrou reportagem do Estado de domingo. O caixa 2 petista também seria abastecido com recursos desviados de outras três prefeituras da região.

Ex-coordenador do programa de governo de Lula, o ministro nega a denúncia de mensalinho e diz nunca ter ouvido falar no dinheiro de Cuba. Tanto ele como o presidente afirmam que a história é "fantasiosa".

Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), "é evidente" que Palocci não pode ser blindado na crise. "Houve problema com a Gtech e com a Caixa Econômica Federal, com o Banco do Brasil e com a Visanet, com o Instituto de Resseguros do Brasil... As diretorias, à época, estavam sob a supervisão de Palocci. É difícil ele não ter de dar esclarecimentos", comentou.

Embora Wagner insista em afirmar que as pontes para o diálgo entre governo e oposição "não estão dinamitadas", Bornhausen acha a trégua impossível. "Não atravesso a rua para conversar com um governo que não tem credibilidade", insistiu, numa referência aos poucos metros que separam o Congresso do Palácio do Planalto. "Como eles querem dialogar com a gente desse jeito, batendo sem parar?", perguntou Virgílio. Para o senador, o governo vive momento crítico. "O problema é saber o que o Palocci de Ribeirão vai criar de problema para o Palocci da Fazenda", provocou.