Título: Lula critica ´medíocres que jogaram chances fora´
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Nacional, p. A6

Ao inaugurar obra em Assis, presidente diz que realizações de seu governo provocam ira e nervosismo naqueles que querem que o Brasil continue sendo um país pobre

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que as realizações de seu governo causam ira e nervosismo entre os que não querem o desenvolvimento do Brasil e pretendem deixá-lo eternamente na lista dos países em vias de desenvolvimento. Ele afirmou que, apesar disso, não pretende perder as oportunidades ímpares que tem hoje, pois isso faria dele 'mais um entre tantos medíocres que jogaram chances fora neste País'. O presidente fez essas afirmações em Assis (SP), no discurso de inauguração da Linha de Transmissão de Energia Londrina/Assis/Araraquara. Segundo Lula, esse tipo de obra de infra-estrutura dá mais segurança para as empresas internacionais que desejam investir no Brasil e evita problemas como o do apagão de 2001. 'Isso certamente causa certa ira naqueles que não querem que o País se desenvolva, naqueles que querem que o Brasil continue pobre, que o Brasil continue sendo por mais um século um país em desenvolvimento ou um país emergente', afirmou. 'Estou convencido de que este século tem de ser o século do Brasil. O século 19 foi da Europa e o 20 foi dos EUA; Por que o século 21 não pode ser do Brasil? Por que não saímos do rol dos países eternamente em via de desenvolvimento e não nos transformamos num país definitivamente desenvolvido?' Ao relembrar o apagão, no segundo governo de Fernando Henrique (PSDB), disse: 'No apagão de 2001 fomos prejudicados duas vezes. Primeiro porque ficamos sem energia e, depois, porque tivemos de pagar pela energia que não consumimos. Tivemos que pagar pelo prejuízo das empresas, mesmo não consumindo energia.' Ele citou números para dizer que seu governo foi provavelmente o que mais teve realizações na área desde que o o sistema público de energia foi inaugurado no País, em 1883: 'Qualquer que seja o presidente eleito em 2006, ele perceberá que nós produzimos 21% de tudo que foi produzido em linha de transmissão em 122 anos. Não é pouca coisa. É muita coisa.' Na lista de realizações do governo, voltou a citar as taxas de criação de empregos. 'Tem gente que fica nervosa quando digo isso, mas de 1992 a 2002, medindo a diferença entre trabalhadores contratados e demitidos, o saldo positivo era mais ou menos de 8 mil empregos por mês. Em 34 meses de governo estamos criando 105 mil empregos por mês.' Na sua avaliação, o Brasil vive momento privilegiado, com chance ímpar de crescimento. 'Se jogarmos fora essa chance, seremos tão medíocres quanto tantos medíocres que jogaram chances fora no País.' Entre os auto-elogios, ele disse que depois de passar vários anos gritando 'fora FMI' acabou enfrentando o Fundo Monetário Internacional na Presidência: 'O Brasil vivia mandando seus ministros a Nova York fazer acordos com o FMI. No ano passado mandamos o Palocci dizer que não precisamos mais fazer acordo', contou. 'Não precisamos de nenhuma passeata, nenhuma faixa, baderna para dizer isso. Eu, que passei muitos anos da minha vida gritando fora FMI, não precisei fazer nada. Apenas com a autoridade de presidente disse que não queremos mais fazer acordo, que vamos andar com nossas próprias pernas, que somos donos do nosso país e o Brasil só vai gastar aquilo que pode gastar.' RAINHA Após a cerimônia, Lula recebeu Diolinda Alves de Souza, mulher do líder sem-terra José Rainha, que está foragido da Justiça. 'Ele me convidou para um cafezinho, pois queria saber como minha família está enfrentando a situação, e perguntou especialmente do João Pedro', contou ela, referindo-se ao filho de 12 anos, que Lula conhece. 'Ele pareceu muito preocupado com a situação das crianças. Percebi que ele queria mostrar que já passou por essa situação, que sabe como a família fica e que está à disposição para me ajudar.' Por seu relato, em nenhum momento Lula criticou a ação da Justiça que resultou na condenação de seu marido a 10 anos de prisão, por uma invasão ocorrida em 2001. Diolinda, que também é da liderança do Movimento dos Sem-Terra (MST) no Pontal do Paranapanema, participou da cerimônia a convite do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ao chegar, ela disse que tinha ido manifestar apoio a Lula, que admira. 'Se ele sair candidato, vai contar com todo o meu apoio.'