Título: Presidente decide entre janeiro e março se será candidato
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2005, Nacional, p. A5

Lula entende que 'o segundo mandato nunca é melhor do que o primeiro'

Ao ser indagado ontem sobre a reeleição, durante o programa Roda Viva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu enigmaticamente e passou a impressão de que poderá não ser candidato. Relembrou que sempre foi contra a reeleição, assim como o PT, e garante que não mudou de posição. Depois afirmou que se decidirá entre janeiro e março do ano que vem. Lula explicou que é contra a reeleição porque a alternância no poder é boa para o País. E assegurou que só será candidato se tiver certeza de que o segundo mandato será melhor do que o primeiro e se tiver perspectiva de eleger uma maioria segura no Congresso.

Lula entende que 'o segundo mandato nunca é melhor do que o primeiro' e citou o exemplo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que enfrenta vários problemas no segundo mandato. Ele acha que seu governo está sendo 'muito bom' e, todas as vezes que teve oportunidade, desfiou uma fieira de números para comprovar a sua afirmação.

Depois de ouvir uma saraivada de perguntas sobre as denúncias de corrupção, Lula tentou passar para a ofensiva, exaltando o PT. Disse que o seu partido 'tem a arrancada do Tevez', puxando o tema futebol e se gabando da goleada que o Corinthians deu no Santos anteontem, de 7 a 1. Segundo o presidente Lula, foi uma vingança pela seqüência de derrotas que o grande time do Santos dos anos 60 impunha ao seu Corinthians.

IMPEACHMENT

Sem citar nomes, o presidente lembrou que o governo passado também foi acusado de comprar votos de deputados - referência às acusações sobre compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, no governo Fernando Henrique. 'Mas nada ficou provado.' Lula pareceu se irritar quando alguém lhe perguntou sobre a possibilidade de o PFL pedir o seu impeachment. 'O PFL não tem autoridade política nem argumento para pedir o impeachment. É hilariante', respondeu.

O presidente confirmou que os documentos do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) estão sendo classificados e estudados pela Casa Civil da Presidência e, até o fim do ano, serão entregues ao Arquivo Nacional e colocados à disposição da sociedade.

Lula reconheceu, ante a uma pergunta da entrevistadora Roseli Tardelli, que precisa dar mais entrevistas coletivas. 'Talvez eu tenha de fazer uma revisão. Possivelmente cometemos equívocos em não dar mais entrevistas', admitiu.

IMPRENSA

Indagado sobre a sua relação com os jornalistas, Lula disse que eventualmente tem críticas à imprensa, mas reconheceu o seu papel importante na consolidação da democracia. 'Eu não seria presidente se não fosse a imprensa', ressaltou, embora ressalvando que, quando era oposição, a imprensa o ajudava mais.

A uma pergunta se o deputado José Dirceu (PT-SP) teria sido o seu grande traidor, Lula negou e apenas disse que o PT cometeu falhas. Ao mencionar o caso do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, frisou que 'até agora também não se provou nada contra ele'.

Em relação ao caso do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, Lula disse acreditar que foi um crime comum, sem conotação política. E garantiu que o PT não tem nada a ver com o crime, comentando que o assunto sempre volta à tona em época de eleições.

Sugeriu que os irmãos de Celso Daniel, que insistem na versão de que o assassinato foi político, não eram tão próximos dele quanto proclamam. 'Eu era muito amigo do Celso e nunca conheci os irmãos dele.' Quando indagado se não gostava de trabalhar, em razão do grande número de viagens nacionais e internacionais que faz, Lula lembrou os tempos em que trabalhava na fábrica e disse: 'Nunca trabalhei tanto quanto trabalho agora. Só um irresponsável pode dizer que o presidente não trabalha quando viaja.'

Ele defendeu a compra do Aerolula, afirmando que antigamente os presidentes viajavam em aviões velhos, que davam vergonha. E destacou que o Aerolula é da instituição Presidência da República, não seu. 'Eu não vou levar para casa quando terminar o meu mandato.'