Título: Palocci: 'Eu disse a Dilma que ela estava errada'
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Nacional, p. A6

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deixou claro ontem que só permanecerá no governo se for para dar continuidade à atual política econômica, que vem sendo criticada por setores do governo, do PT e da base aliada. "Minha força é para executar este projeto." Ele voltou a defender um ajuste fiscal de longo prazo, que foi duramente criticado pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Eu disse à ministra que considerava que ela estava errada." Dilma afirmou que o plano elaborado pela equipe econômica era "rudimentar".

Em seu depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Palocci disse que a redução do superávit primário (a poupança que o setor público faz para pagar uma parte dos juros das dívidas), hoje em 4,25% do PIB, criará grave problema fiscal. "Nós vamos contratar nova crise (se o superávit for reduzido), vamos patinar e obrigar o futuro governo a fazer um novo ajuste", observou, ao rebater o senador César Borges (PFL-BA), que defendeu uma redução do esforço fiscal. "A idéia de um afrouxamento fiscal não é boa conselheira."

Para Palocci, não existe nenhuma indicação de que o presidente Lula esteja disposto a fazer mudanças na política econômica. "Toda vez que foi preciso o presidente reafirmou esta política, este projeto. Se ele tivesse dúvida sobre a política, a equipe econômica não teria conseguido obter os ganhos no combate à inflação", afirmou. "Não acho que devemos mudar a política e não há sinais de que o presidente deseja mudá-la."

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) disse que Palocci levou "um tiro disparado por Dilma" e criticou Lula por ele ter silenciado depois das críticas. "A obrigação dele era repreender a ministra." Com as críticas de Dilma e com as denúncias sobre irregularidades na administração de Ribeirão Preto, Peres acha que Palocci se enfraqueceu politicamente. "O senhor se sente em condições de continuar tocando a política econômica?", questionou. Palocci não respondeu diretamente. Foi neste momento que afirmou que sua força era para executar a política econômica.

Na entrevista ao Estado, semana passada, Dilma disse que a equipe econômica estava "enxugando gelo", pois de um lado aumentava a taxa de juros e, de outro, aumentava o superávit primário. "Não acho que estamos enxugando gelo, como acreditam alguns, mas trabalhando com afinco em pontos que vão estruturar a economia para que ela possa crescer de forma sustentada", disse Palocci, sem citar Dilma.

Ele negou que a carga tributária tenha aumentado este ano e disse que o crescimento da arrecadação decorre do aumento dos lucros das empresas. "Sei que essa questão da carga tributária vai ser muito discutida nos palanques das campanhas do próximo ano, mas eu não sou candidato a nada."