Título: Economia tem base sólida, diz Lula
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Nacional, p. A7

Numa fala de improviso, para uma platéia de cerca de 500 cientistas reunidos em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou ontem a política econômica, mas deixou de fazer a anunciada defesa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao qual não fez qualquer referência, nem mesmo indireta. No discurso, para a 3.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, promovida em Brasília, Lula atacou os que "têm muita sede" de antecipar as discussões eleitorais e pediu a todos que reflitam sobre o que está acontecendo no País. Lula voltou a dizer que o Brasil apresenta hoje a melhor combinação de fatores positivos desde o governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Apelou ainda para que não se desperdice "a oportunidade de o País se manter no atual caminho de crescimento, com base sólida".

O presidente falou poucas horas antes de Palocci aparecer no Senado. Disse ele: "Nem sempre terão tudo que vocês gostariam que tivesse, ou notícias boas ou ruins, mas haverá um momento em que o povo brasileiro terá de definir. Afinal de contas, ano eleitoral sempre é um ano muito delicado no Brasil, porque o Brasil sempre foi pensado de quatro em quatro anos, o Brasil nunca foi pensado para 20 anos ou para 30 anos. O País que é pensado apenas de quatro em quatro anos, a Nação fica tão medíocre quanto os dirigentes que a dirigiram."

De forma bem mais tímida do que em outras nas quais defendeu Palocci dos ataques, o presidente defendeu a política econômica, listando "a combinação de fatores positivos" registrados no momento, embora reconheça que talvez estes fatores positivos não sejam "tanto quanto cada um de nós gostaríamos que tivesse". Lembrou, ainda, que o momento é de crescimento econômico, do emprego, da massa salarial, do poder de compra do salário mínimo, do superávit de conta corrente, das exportações, da balança comercial e da queda da inflação.

BASE SÓLIDA

"Estamos com a base sólida para este país deixar de ser eternamente um país emergente e se transformar num país definitivamente grande e desenvolvido", disse Lula. Ele iniciou o improviso pedindo aos parlamentares que "não meçam esforços" para aprovar este ano, para entrar em vigor no ano que vem, o projeto do Fundeb (que destina recursos ao ensino básico e fundamental).

Lula entende que, se o assunto ficar próximo ao processo eleitoral, "fica quase impossível juntar gente" para votá-lo. "E eu temo que a gente tenha um ano jogado fora", opinou.

Mesmo falando em cautela diante do momento político vivido pelo País, Lula pediu que a sociedade cobre cada vez mais do governo. "Se não houver pressão, todo governo tende a achar que é o melhor do mundo." A sociedade livremente organizada, prosseguiu, "não é obrigada a se contentar com as coisas que o governo acha que já fez". "A obrigação é, cada vez mais, cobrar, cobrar, cobrar."

Quando Lula deixava o local, um advogado chamou-lhe a atenção para contar o seu drama. Era Francisco Novais , desempregado há 15 anos. Pediu que o ajudassem a reconquistar o cargo no Ministério das Minas e Energia, que diz ter perdido "por pressões internacionais" na área nuclear.