Título: CPI do Mensalão ganha mais um dia para tentar sobrevida
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Nacional, p. A10

O senador Amir Lando (PMDB-RO), presidente da CPI do Mensalão, passou o dia lutando praticamente sozinho para reunir as 171 assinaturas de deputados exigidas para prorrogá-la. Na terça-feira, o requerimento que dava prazo de mais 180 dias, do deputado José Rocha (PFL-BA) tinha só 15 assinaturas. Irritado com o desinteresse, Lando saiu a campo e conseguira 146 assinaturas até as 20h30 - o prazo se encerrava à meia-noite. "Não dá para encerrar a CPI. Ela não concluiu nada", apelou Lando, ainda de manhã, ao relator, Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). Durante todo o dia, a oposição acusava o governo de não ter se programado para prorrogar seu funcionamento. O governo, patrocinador da CPI, acusava a oposição de ter sabotado a prorrogação.

Criada com apoio do Planalto para investigar o mensalão e a compra de votos para a reeleição do presidente FHC, como contraponto à CPI dos Correios, que investigava corrupção no governo, a CPI do Mensalão mal saiu do lugar nos 120 dias de funcionamento. Mas nos bastidores, a conclusão ontem era de que ninguém queria dar seqüência às investigações porque praticamente todos os partidos estavam envolvidos.

"A CPI foi partidarizada. Cada legenda manteve uma certa fidelidade partidária, para afastar qualquer possibilidade suicida, onde o princípio da não incriminação esteve presente o tempo todo", lamentou Lando. "Está todo mundo com medo, apavorado. Ninguém quer que a CPI continue", avaliou a deputada Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB-SP). "Só queríamos prazo para terminar a CPI com decência e dignidade, mas ninguém quer assinar o requerimento de prorrogação." A tucana apresentou outro requerimento, dando prazo de apenas mais 30 dias para a CPI, mas à noite ele tinha cerca de 70 assinaturas.

Àquela altura, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), já se reunira com líderes aliados. "A orientação do governo foi para não assinar o requerimento", resumiu o do PL, Sandro Mabel (GO).

RELATOR

Inconformado, Lando foi conversar com o líder de seu partido na Câmara, Wilson Santiago (PB). "Vim aqui ajudar, mas nem o PMDB quer assinar", disse. "Ou assinamos, ou ficamos todos sob suspeita." O líder argumentou que nem o relator ajudava: "O problema foi que Abi-Ackel falou para todo mundo que já estava com o relatório pronto para ser votado, e eles estão alegando isto para não assinar."

Abi-Ackel passou o dia inteiro com seu relatório debaixo do braço, insistindo que seu trabalho estava pronto e era conclusivo. "Só pode haver prorrogação se houver novos objetos de investigação. Não posso aceitar que a CPI continue para eu apresentar café requentado", disse ele a Lando, referindo-se ao relatório, que manteve secreto durante todo o dia.