Título: MP convoca testemunhas de Suplicy para depor
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Nacional, p. A9

O Ministério Público e a Polícia Civil decidiram ontem intimar as duas novas testemunhas do caso Celso Daniel localizadas pela CPI dos Bingos. Promotor de Justiça que integra a força-tarefa do Ministério Público, Roberto Wider Filho ressaltou a importância dos relatos, em especial o da testemunha identificada como Y.. Durante visita do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) - designado pela CPI para acompanhar o caso - ao local onde o prefeito de Santo André foi seqüestrado em 18 de janeiro de 2002, Y. relatou que Daniel foi cercado por "8 a 10" homens e obrigado a subir a pé a Rua Antônio Bezerra - conhecida como Rua dos Três Tombos, na zona sul -, por onde ele passava a bordo de uma Pajero, dirigida pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sérgio Sombra.

"Ele falava alto. Não queria subir (a rua)", afirmou Y. anteontem. Ela presenciou a cena da janela da cozinha de sua casa. A versão de Y. é diferente da apresentada por Sombra, considerado pelo MP o mandante do crime.

Segundo Wider Filho, no depoimento que prestou à Justiça, Sombra afirmou que Daniel desceu do carro em que estavam com as mãos para cima. "O que o Sérgio disse foi que o Daniel teria erguido os braços, mostrando assim disposição em negociar", disse o promotor. "São versões diferentes."

Y. contou ainda que ela e sua irmã não viram em nenhum momento Sérgio Sombra ser rendido pelos seqüestradores.

Outra testemunha localizada anteontem por Suplicy - identificada como Ana Maria - disse que seu filho viu Sérgio Sombra falando ao telefone com aparente tranqüilidade após Celso Daniel ser levado pelos homens em uma Blazer. Dois dias depois do seqüestro, o prefeito foi encontrado morto com sinais de tortura. A polícia fala em crime comum, mas os promotores têm a convicção de que se trata de crime de mando.

Hoje, Sérgio Sombra será ouvido pela CPI dos Bingos, em Brasília, junto com Ronan Maria Pinto e Klinger Luiz de Oliveira Souza, acusados pelo MP de integrarem o suposto esquema de corrupção em Santo André.

O criminalista Adriano Salles Vanni, que defende Sérgio Sombra, declarou ontem que o surgimento de novas testemunhas "não preocupa em nada". Vanni destacou que o empresário "sempre admitiu" que fez uso do celular logo após a ação dos seqüestradores. "Ele telefonou para a Polícia Militar e para amigos comuns a quem informou sobre o seqüestro", anotou. "É normal também que haja contradições diante de um cenário de guerra como aquele."

Roberto Podval, que também defende o empresário, informou que iria entrar com habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal para desobrigá-lo do depoimento à CPI dos Bingos. Ele diz, no entanto, que Sombra quer ir à CPI.

Ronan Maria Pinto informou por sua assessoria que também "faz questão de ir à CPI".