Título: Brasil crescerá menos, prevê Bird
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2005, Economia & Negócios, p. B10

A política monetária restritiva adotada pelo governo e a falta de investimentos de empresas vão desacelerar o crescimento econômico do Brasil este ano, com aumento do PIB de 3,8%. A avaliação é do Banco Mundial (Bird), que, em relatório sobre a economia global, alerta que as eleições em 2006 podem afetar as perspectivas de crescimento do País a médio prazo. Outro risco é a alta das taxas de juros nos Estados Unidos. No geral, o Bird estima que a economia mundial crescerá 3,2% em 2005, ante 3,8% em 2004. Os países ricos, porém, crescerão apenas a metade que os países emergentes. Segundo o economista do Banco Andrew Burns, os países ricos aumentarão seus PIBs em 2,5% neste ano e no próximo. Para os emergentes, a previsão é de 5,9% neste ano e de 5,7% em 2006 (em 2004, foi de 6,8%). China e Índia vão manter desempenhos invejáveis, de 9% e 7%, respectivamente, em 2005.

O crescimento da América Latina também vai desacelerar até 2007 e ficará abaixo dos demais países emergentes. Depois de crescer 5,8% em 2004, a previsão é que a região cresça só 4,5% neste ano, por causa da desaceleração do Brasil e do México. Se essas duas economias fossem excluídas do cálculo, o crescimento da região seria de 5,9%, puxado pelas exportações e taxas de juros baixas. Bolívia, Colômbia, Chile e Peru continuarão com as mesmas taxas de crescimento de 2004.

Para 2006, as taxas de crescimento mundial serão de 3,9%; em 2007, de 3,6%. Explicam os economistas do banco que já é um reflexo do impacto dos preços das commodities em queda e do problemas com a alta no preço barril do petróleo. Os preços das commodities agrícolas já caíram 5% neste ano e a eventual retirada dos subsídios europeus ao açúcar pode dar novo impulso.

REAÇÃO

O Bird ressalva que, apesar da tendência de queda, a média de crescimento é bem superior à dos últimos anos, de 2,5%. A estagnação do PIB per capita dos últimos 20 anos, segundo o banco, começa a ser revertida e, para os próximos 10 anos, a América Latina terá média de crescimento do PIB de 3,6% e aumento de PIB per capita de 2,3%. Com isso, a região estará se encaminhando para atingir as metas da ONU de redução de pobreza.

Pelas estimativas do Bird, 29 milhões de latino-americanos continuarão a viver com menos de US$ 1 por dia em 2015, ou seja, 6,9% da população. Em 1990, eram 49 milhões nessa situação, 11,3% da população.

No geral, o Bird estima que todas as regiões em desenvolvimento conseguirão atingir as metas da ONU, salvo a África, onde aumenta o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1 por dia. Em 1990, a região tinha 227 milhões de pessoas vivendo nessa situação. Para 2015, a projeção é de 336 milhões. No total, o número de miseráveis no mundo será de 620 milhões em 2015, ante 1,2 bilhão em 1990.

RISCOS

O desempenho mais favorável da América Latina ocorre em parte graças à abertura ao comércio mundial, às políticas orçamentárias responsáveis adotadas e às reformas, além da inflação baixa e da adoção de regimes de câmbio flexível.

No curto prazo, o que colaborou também foi a queda da percepção de risco dos investidores em relação à região, permitindo que, em 2005, os investimentos diretos e fluxo de capital aumentassem em 11%.

Mas a situação está longe de estabilizar, por causa da proximidade das eleições em vários países, que podem afetar a economia da região. Em 2006, além do Brasil, haverá eleições na Colômbia, México e Peru. O Bird prevê aumento de gastos governamentais e interrupção de reformas estruturais.

Outra ameaça para 2006 é a alta dos juros nos EUA, que poderiam chegar a 5% até 2007. O aumento, porém, pode ser acelerado por desequilíbrios estruturais. As simulações do Bird indicam que as conseqüências podem ser "sérias" se os juros mundiais aumentarem 200 pontos.

A região pode perder até 2% do PIB. "Os impactos mais significativos poderão ser sentidos em países altamente endividados, como Brasil, Colômbia e Uruguai, onde a alta nas taxas de juros pode causar custos fiscais adicionais e exigir cortes de gastos que acentuariam a desaceleração das economias", afirma o relatório.