Título: Palocci e Dirceu têm semana decisiva
Autor: João Domingos e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - A semana começa turbulenta para o governo. O destino do ministro da Fazenda Antonio Palocci começa a ser selado amanhã, com a votação de sua convocação pela CPI dos Bingos. Como os governistas são minoria, está praticamente certo que Palocci terá de depor. Também amanhã, o presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, amigo pessoal do presidente Lula vai à CPI. Para completar, o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP), aguarda um recurso decisivo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Se for derrotado e não conseguir nenhuma reviravolta na Justiça, pode perder o mandato na quarta-feira. Quanto a Palocci, a tendência é o governo apoiar a convocação, que havia sido acertada na semana passada. "Vamos fazer um acordo. Na negociação está o depoimento do ministro", disse o senador Tião Viana (PT-AC). Ao mesmo tempo, e a menos de 800 metros da sala da CPI, Palocci estará na Comissão de Finanças da Câmara. Enfrentará uma situação desconfortável. O presidente da comissão, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), da oposição independente, ameaça fazer perguntas sobre denúncias de irregularidades no tempo em que ele foi prefeito de Ribeirão Preto (SP).

Na terça, a comissão tentará descobrir de Okamoto - que, além de amigo, é contador de Lula - quais as circunstâncias que o levaram a pagar uma dívida de R$ 29 mil do presidente com o PT. Lula não reconhece a pendência.

Quarta-feira o pedido de cassação de Dirceu pode ir a votação no plenário da Câmara, se não houver novo adiamento na CCJ ou na Justiça. Na Comissão de Constituição e Justiça, ele argumenta que o Conselho de Ética ouviu as testemunhas de defesa antes das de acusação.

ANGÚSTIA

O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), admitiu que esta semana é de muita angústia para o governo. Em relação a Dirceu, ele acha que não há muito mais o que fazer (pesquisa feita pelo Estado, publicada ontem, mostra que 55% dos deputados são favoráveis à cassação).

Quanto a Palocci, Casagrande afirmou que ainda é possível encontrar uma saída, se depender do ministro. "Ele tem condições de se sair bem. É só mudar. Ninguém quer que o Palocci saia, mas ninguém quer que ele continue apertando a economia desse jeito." Para o líder, o governo já perdeu a grande batalha, que é de se mostrar ético. "O governo perdeu a bandeira ética, se não tiver realizações para mostrar, não terá discurso para o palanque."

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), afirmou que nem o governo nem Lula têm condições de sair do atual inferno em que se encontram. "A cada dia aparece um mal feito novo. A captação de dinheiro que fizeram esses anos todos na busca do poder vaza a cada momento e tem surpreendido até a gente."

Para ele, Palocci será mantido no cargo apenas como um símbolo. "A opção eleitoral que já fizeram é no sentido de abrandar o aperto fiscal, reduzir juros, aumentar capacidade de consumo da população. Querem criar uma bolha de euforia e, para isto, têm que ao menos conter o Palocci."