Título: TAP desembolsa US$ 3 milhões
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Economia & Negócios, p. B12

Restantes US$ 59 milhões pelo pagamento das ações de VarigLog e VEM virão de financiadores

A continuidade da operação da Varig, ao menos até o fim deste ano, foi praticamente garantida ontem. Em solenidade na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi assinado o contrato para a venda das ações da VarigLog e Varig Engenharia e Manutenção (VEM) à TAP por US$ 62 milhões. Nesta etapa inicial, a TAP desembolsará ao redor de US$ 3 milhões - o restante virá de investidores parceiros e de financiamento do BNDES. O dinheiro estava programado para ser depositado ontem e repassado hoje às empresas que arrendam aviões (leasing) à Varig. Era o que a companhia precisava para sensibilizar o juiz da corte de Nova York, Robert Drain, que hoje se reúne com representantes da Varig e das arrendadoras para decidir o futuro de uma liminar que impede o arresto de cerca de 40 aviões até sexta-feira.

Um terço do total que será pago às empresas de leasing, ou US$ 20,6 milhões, ficará a cargo de uma empresa que a TAP constituiu no exterior, a Reaching Force. Atualmente, os portugueses têm 15% dessa companhia e o fundo de investimentos GeoCapital, de Macau, tem os 85% restantes. Na virada do ano, a relação vai mudar para 50,1% para os portugueses e 49,9% para os chineses.

Segundo Fernando Pinto, presidente da TAP, o investimento para a aquisições de ações das duas subsidiárias da Varig vai ser proporcional à atual divisão acionária, indicando que algo como US$ 17 milhões virão do fundo sediado na ex-colônia portuguesa, atual província da China.

Os outros US$ 41,3 milhões para pagar as arrendadoras de aviões serão financiados pelo BNDES. O custo do financiamento inclui spread anual de 4,5%, mais a variação de uma cesta de moedas. O prazo de pagamento será de 63 meses, com carência de 26 meses e amortização semestral a partir do 37º mês.

Segundo o presidente da TAP, a Reaching Force é que vai investir na subsidiária brasileira da Aero-LB (de Luso Brasileira) Participações S.A., uma sociedade de propósito específico criada para a operação. Essa empresa foi constituída para ser a dona de ações da VarigLog e da VEM. Além da TAP, a Aero-LB é constituída pelo fundo brasileiro Stratus, dos brasileiros Alberto Camões e Álvaro Gonçalves. Juntos, os dois investidores têm 80% do capital votante e a TAP os 20% restantes, de acordo com a legislação do setor.

"A GeoCapital investe capitais chineses em países de língua portuguesa há cerca de dois anos", diz Pinto. O controlador da GeoCapital é Stanley Ho, nascido em Macau, com fortuna de US$ 3,6 bilhões, a 151ª do mundo, segundo a edição internacional da Revista Forbes. Ele tem 83 anos, é casado e tem 17 filhos. Tem 15 cassinos em Macau, de um total de 17.

"Devo dizer que ele é extremamente reconhecido em Portugal, onde faz investimentos muito fortes", respondeu o presidente da TAP, quando foi questionado da suposta ligação de Stanley Ho com o crime organizado, motivo que , conforme a mídia do Canadá e da Austrália, o impediu de abrir cassinos nesses dois países.

Apesar de circular com desenvoltura no jet set internacional, Stanley Ho é alvo de investigações sobre lavagem de dinheiro e crime organizado. Uma investigação feita pela revista Far Eastern Economic Review, publicada em julho do ano passado e relatada pelo jornal The Asian Pacific Post, enumera uma série de suspeitas contra Ho levantadas por serviços de inteligência do Canadá, EUA, Reino Unido e Austrália. À época, o empresário negou veementemente as acusações.

Procurados, os executivos da Stratus não quiseram dar entrevista. Por meio de assessoria de imprensa, garantem que já "assinaram o cheque", mas não revelam o quanto irão investir no negócio.

COMISSÃO

O presidente da Comissão de Infra-Estrutura do Senado, Heráclito Fortes (PFL-PI), determinou ontem a criação de uma subcomissão para acompanhar o processo de recuperação judicial da Varig. O grupo será formado por três senadores, mas os nomes ainda não foram definidos. Um dos parlamentares convidados por Fortes para integrar o grupo é o senador Gerson Camata (PMDB-ES).