Título: Suspeita de aftosa no PR pode ter sido precipitada, diz ministro Rodrigues avaliara em 90% as chances de doença no Estado, ainda não confirmadas
Autor: Agnaldo Brito, Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Economia & Negócios, p. B7

Chile pede garantias para tirar embargo

EXPORTAÇÃO: O Chile, terceiro maior importador de carne bovina do Brasil, aguarda "com ansiedade" as garantias de que os focos de febre aftosa no País estão controlados. "O Chile espera com ansiedade esta informação. Assim que as autoridades sanitárias derem garantias de que os focos estão controlados, o Chile suspende o embargo", disse Rigoberto Garcia, adido comercial do Escritório Comercial do país, em São Paulo. Garcia negou que o Chile mantenha uma posição de intransigência com o Brasil em relação à retomada dos embarques de carne, como sugerem setores da indústria de exportação. O Chile já enfrenta problemas, segundo o adido, com o embargo. O Brasil detém 60% do mercado de carne bovina do Chile e esta participação cria problemas de abastecimento. Garcia afirmou que os estoques estão no fim: "Havíamos comprado muita carne brasileira antes da crise, mas o estoque duraria apenas um mês. O mercado chileno já começou a procurar novos fornecedores na Argentina, Uruguai e Paraguai" .

Até setembro, o Brasil vendeu US$ 137 milhões em carne bovina para os chilenos. Em 2004, foram vendidos US$ 199 milhões em carnes bovinas.

O Escritório Comercial do Chile acredita que o Brasil aguarda para "ter 100% de certeza" de que a aftosa foi controlada.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu ontem que pode ter se precipitado ao considerar como foco as suspeitas de febre aftosa em quatro municípios do Paraná. No dia 22 de outubro, o ministro disse que a possibilidade da doença no rebanho paranaense chegava a 90% por causa do contato do rebanho do Paraná com o Mato Grosso do Sul. "Pode ter havido precipitação de minha parte", afirmou.

Por causa da suspeita, o comércio de carne de animais vivos, carne industrializada e subprodutos de 36 municípios do Paraná para outros Estados foi suspenso. A medida prejudicou a economia dos municípios interditados e impôs prejuízos aos produtores de leite locais, que foram obrigados a jogar fora toda a produção leiteira.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, Rodrigues reconheceu que pode ter havido precipitação da área técnica do Ministério da Agricultura. No entanto, classificou como "tempestivas e positivas" as ações adotadas pela Secretaria de Agricultura do Paraná. "A questão é muito complicada do ponto de vista da credibilidade nacional. Não podemos errar nesse negócio. Precisamos ter clareza e transparência."

Segundo Rodrigues, por precaução os animais suspeitos de aftosa no Paraná foram abatidos e as vísceras, encaminhadas para análise no Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Belém (PA). "Estamos quase procurando a aftosa para ter a certeza de que ela existe mesmo. É politicamente mais fácil explicar que era um foco de aftosa do que um sintoma não confirmado da doença. Nesse caso, estaríamos enfrentando um problema de credibilidade."

A possibilidade de ajuda aos pecuaristas paranaenses prejudicados com a restrição de trânsito, segundo o ministro, será analisada caso não se confirme a suspeita do foco. Essa avaliação depende dos resultados dos exames. Pelo menos dois exames foram feitos e os resultados foram negativos. Os resultados que poderão confirmar ou descartar o foco sairão até o fim desta semana.

O ministro disse ser favorável à antecipação da imunização do rebanho do Rio Grande do Sul. O Estado vacina animais em janeiro, fevereiro, junho e julho. A idéia, para evitar a contaminação do rebanho, é antecipar a vacinação para dezembro.

Em relação à restrição de São Paulo a produtos de Mato Grosso do Sul e do Paraná, o ministro disse que essa decisão cabe aos deputados. "Nenhum Estado pode fazer menos do que determina o governo federal, mas pode fazer mais, ou seja, restringir mais o comércio". O ministro calculou em US$ 300 milhões a redução do faturamento com as exportações de carne neste ano. "É dez vezes os recursos da Defesa."