Título: Álcool exige investimento de US$ 10 bi
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Projeção para os próximos 7 anos é da agroindústria; segundo o governo, maior desafio será transformar o etanol em commodity

O setor de açúcar e álcool terá de investir nos próximos sete anos cerca de US$ 10 bilhões para atender a demanda cada vez mais crescente do mercado, seja interno ou externo. A projeção foi feita pelo presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, que participou ontem do seminário Proálcool - 30 anos depois, promovido pelo Grupo Estado. Durante o evento, diversos especialistas também discutiram a necessidade de transformar o etanol numa commodity para que o uso do chamado combustível verde possa ser adotado no mundo. Segundo a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, esse será o maior desafio do setor nos próximos anos.

A estratégia é incentivar outros países, como Colômbia, Tailândia, Austrália e Índia, a produzirem o etanol em grande escala para aumentar a oferta do produto no mercado internacional. Só assim, dizem especialistas, os demais países terão segurança para adotar um programa de uso de álcool na frota.

Na opinião da ministra, o Brasil está pronto para fornecer álcool para o mundo. 'Mas precisamos de padronização e monitoramento da qualidade do produto, além de infra-estrutura para escoar a produção rumo ao exterior', comentou ela.

Para Dilma, as exigências ambientais, como o Protocolo de Kyoto, vão expandir o consumo do álcool no mercado internacional.

E o Brasil está numa posição privilegiada, pois tem a indústria de açúcar e álcool mais estável e competitiva do mundo, avaliou.

INFRA-ESTRUTURA

A ministra também afirmou que a Petrobrás investirá US$ 315 milhões na logística de transporte do álcool até os portos. Isso inclui novos dutos que ligarão Conchas e Ribeirão Preto à Refinaria Replan, em Paulínia, no interior de São Paulo. Só nesses trechos serão cerca de 290 km de alcooldutos. De Paulínia, a Petrobrás planeja construir mais 16 km de dutos até Guararema, também em São Paulo, o maior produtor de etanol do País.

Essas ligações serão feitas para facilitar a exportação do combustível via Porto de São Sebastião e também pelo terminal de Ilha D´água, no Rio de Janeiro.

Juntos, os empreendimentos elevarão a capacidade de exportação em 8 bilhões de litros de álcool por ano até 2010.

As obras deverão reduzir os custos do álcool com destino ao comercio exterior. Para o presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho, o Brasil tem o produto mais competitivo do mercado.

'Mas isso na usina, pois deixamos metade da nossa eficiência nas precárias estradas brasileiras.' Ele também criticou a falta de estoque regulador num País que deverá consumir 16 bilhões de litros de álcool neste ano.

BICOMBUSTÍVEIS

Sobre o mercado interno, Dilma afirmou que o sucesso dos carros bicombustíveis (flex fuel) nos últimos anos exigirá cerca de 1 bilhão de litros de álcool por ano para atender a demanda nacional. A tecnologia flex ganha força no momento em que a indústria de álcool brasileira se lança para conquistar o mercado externo e estabilizar o mercado interno.

De acordo com projeções do presidente do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, até 2008 todos os veículos leves vendidos no Brasil serão bicombustíveis.

Com isso, o consumo da gasolina deve cair 0,1% ao ano até 2010. Já a queda da demanda pelo álcool anidro, que é misturado na proporção de 25% à gasolina vendida nos postos, deve cair 3,9% ao ano no período avaliado.

Em contrapartida, o consumo do álcool hidratado aumentará 16,5% ao ano até 2010 no Brasil, principalmente por causa do crescimento do mercado de carros flex .

'Com a tendência de alta dos preços do petróleo, o álcool é fundamental para nós', afirmou Dilma. Ela lembrou que durante anos houve ceticismo em relação ao uso de combustíveis alternativos.

Hoje o consumidor não teme um eventual desabastecimento e valoriza os veículos com novas tecnologias. Colaborou: Gustavo Porto