Título: Indústria perde fôlego, mostra CNI
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

Em setembro, caem as vendas do setor e o número de empregados; o uso da capacidade instalada é o mais baixo em 22 meses

A indústria atingiu em setembro o maior nível de ociosidade em 22 meses, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A utilização da capacidade instalada foi de 80,1%, a menor desde novembro de 2003. Na comparação com agosto, quase todos os indicadores apresentaram queda. As vendas industriais ficaram 0,47% menores, a quantidade de pessoal empregado encolheu 0,03% e o total de horas trabalhadas ficou 0,40% menor. Só os salários tiveram desempenho positivo - aumento de 0,43%.

Os dados confirmam que o terceiro trimestre foi fraco, conforme afirmou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, em entrevista publicada ontem pelo Estado.

"Já esperávamos um trimestre ruim, mas este finalzinho surpreendeu um pouco", disse o coordenador de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. "A única exceção foi o dado relativo ao salário real dos trabalhadores na indústria", completou Paulo Mol, economista da CNI.

Com a alta de 0,43% em setembro na comparação com agosto, o salário do trabalhador industrial passou acumular elevação de 8,76% no ano. "A massa salarial vem crescendo por nove trimestres seguidos", destacou Mol.

Os economistas da CNI explicaram, no entanto, que a alta dos salários veio puxada pela queda da inflação. Índices de aumento de preços mais baixos fazem com que o salário real cresça. "Esse comportamento não foi reflexo de melhora da atividade", disse Castelo Branco.

"A capacidade instalada teve a maior queda mensal da série histórica em setembro", informou Mol. O índice de uso da capacidade instalada recuou dos 81,9% de agosto para 80,1%. "É o menor porcentual desde novembro de 2003", disse o economista da CNI. Naquele mês, o índice estava em 79,7%.

Os economistas da CNI ressaltaram que a queda pode ter sido provocada pelo aumento da própria capacidade de produção. "Pode ter ocorrido uma maturação dos investimentos", disse Castelo Branco.

As vendas da indústria ficaram 0,47% menores que as de agosto e 1,07% abaixo das de setembro de 2004. "É a primeira vez que esse índice também fica negativo", destacou o coordenador de Política Econômica da CNI, referindo-se à comparação com o ano passado.

NATAL

Apesar disso, a CNI se mostrou confiante no desempenho das vendas no comércio no fim do ano. "Teremos um Natal bom", disse Mol, embora não concorde com as avaliações de que será o melhor dos últimos 10 anos. A confiança, nesse caso, tem base na melhora dos indicadores de renda. "Teremos boas vendas, mas sem um crescimento econômico forte", disse Castelo Branco.

A culpa pela piora do cenário da atividade econômica, na opinião dos economistas da CNI, está concentrada na alta taxa de juros e na valorização do real. "A queda dos juros em setembro ainda não surtiu efeito na produção", disse Castelo Branco. O câmbio, de acordo com ele, tem afetado mais diretamente as empresas exportadores. "Dificilmente as exportações crescerão em 2006 como neste ano", observou.

A crise política, segundo Paulo Mol, também pode ter afetado o nível de produção em setembro. "A questão da crise pode ter afetado as expectativas, mas isso é mais difícil de mensurar", disse.

Apesar das más notícias, os economistas da CNI continuam acreditando que o Produto Interno Bruto (PIB) poderá ter expansão de 3,5% neste ano.