Título: Na China, Bush pede reformas a Hu
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2005, Internacional, p. A8

PEQUIM - No encontro com seu colega chinês, Hu Jintao, o presidente americano, George W. Bush, fez pressão para reduzir o desequilíbrio na balança comercial entre os dois países - favorável em US$ 200 bilhões para a China - e ampliar as liberdades religiosa, social e política no país. Antes, ele assistiu ao serviço religioso em uma das poucas igrejas cristãs reconhecidas oficialmente pelo governo chinês. Segundo a Casa Branca, a presença de Bush - um fervoroso cristão protestante - significou o apoio dos Estados Unidos à expansão da fé na China. Pela manhã, Bush andou de bicicleta em Pequim com um grupo de ciclistas olímpicos. Em meio ao clima de cordialidade, no qual Hu anunciou que visitará os EUA no começo de 2006, o dirigente chinês foi enfático ao reafirmar que "não tolerará movimentos de independência" em Taiwan - considerada pela China uma província rebelde.

Durante a reunião dos países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na semana passada, Bush havia elogiado Taiwan como "modelo de sociedade livre e democrática". Por meio de um porta-voz, o governo chinês respondeu imediatamente argumentando que "os chineses experimentam todas as formas de democracia e liberdade sob o império da lei".

Bush e Hu conversaram a portas fechadas por 90 minutos no Grande Palácio do Povo, em Pequim, e depois fizeram declarações a jornalistas, durante as quais evitaram manifestações sobre os temas mais polêmicos.

Os repórteres não puderam fazer perguntas aos dois chefes de Estado. Reafirmando a visão chinesa de liberdade e democracia, Hu declarou que os chineses "vivem sob decisões democráticas, uma gestão democrática e de uma supervisão democrática previstas pela lei".

Numa admissão explícita de que o Partido Comunista Chinês não tem nenhuma intenção de promover mudanças drásticas no regime vigente desde 1949, Hu afirmou que "no futuro, a China continuará levando em conta as condições nacionais e as aspirações de seu povo para a construção de políticas democráticas com características chinesas".

Hu silenciou sobre o caso do Tibete, depois de Bush ter afirmado que pediu a ele, dias atrás, que convidasse o Dalai Lama para que ele ouvisse de sua própria boca que "não deseja um Tibete independente".

O presidente da China prometeu medidas para a resolução dos litígios comerciais com os EUA e afirmou que ambos os países buscam resultados de benefícios mútuos e cooperação - uma política que denominou de "win-win" (todos ganham).

No entanto, não houve nenhum anúncio concreto sobre uma maior valorização do yuan, a moeda chinesa, reivindicada pelos americanos para reduzir a vantagem comercial da China. O baixo valor do yuan em relação ao dólar é considerado o responsável pelo déficit comercial dos EUA em seus negócios com a China.

Segundo Hu, a China continuará promovendo o mecanismo de reforma da taxa de câmbio. Ele garantiu ainda que seu país ampliará os esforços para proteger a propriedade intelectual.

A flexibilidade do yuan é uma demanda constante dos EUA e da União Européia, mas a China tem repetido que o avanço nesse sentido deve se dar num ritmo que não desestabilize seu frágil sistema financeiro.

O presidente chinês disse que tanto os Estados Unidos como a China demonstraram a vontade de "darem as mãos para atingir, gradualmente, um equilíbrio na balança comercial" entre os dois países. "Os atritos e problemas que podem surgir neste rápido desenvolvimento do comércio bilateral devem ser tratados nos foros adequados, em consultas mútuas", afirmou.

Antes da reunião, um assessor do governo dos EUA informou que oito companhias chinesas comprarão da empresa americana Boeing 70 aviões 737, uma operação comercial de mais de US$ 4 bilhões.

Os dois líderes também prometeram lutar contra a gripe aviária. "Decidimos reforçar a cooperação bilateral na prevenção e controle da gripe aviária, além de apoiar e participar das tarefas preventivas", disse Hu.

Enquanto os dois líderes escolhiam palavras para evitar pôr em risco as relações especiais entre China e EUA inauguradas na década de 70, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, expressou com clareza a preocupação de Washington com a aquisição de armas para a o Exército chinês. "Nós esperamos ser capazes de manter o equilíbrio (militar) na região", disse Condoleezza.

O Exército de Libertação do Povo tem 2,5 milhões de soldados. O reequipamento dessa força é visto pelos EUA como uma ameaça velada a Taiwan.

"A China tem um compromisso com o desenvolvimento pacífico de seu povo", disse Hu. "Essa decisão (de modernizar o Exército) foi tomada levando-se em conta as condições nacionais, a herança cultural e histórica chinesa e a tendência atual de desenvolvimento mundial."

Bush viaja hoje para a Mongólia, onde encerra sua viagem pela Ásia.