Título: Chile nega liberdade a Fujimori
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2005, Internacional, p. A14

Peru conclui pedido formal de extradição e acredita em solução do caso até o fim do ano

A Justiça chilena rejeitou ontem um pedido de liberdade provisória em favor do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, preso na segunda-feira depois de ter chegado de surpresa ao Chile, na véspera. Ao mesmo tempo, em Lima, o governo peruano concluía o pedido formal de extradição de Fujimori para enviá-lo ao Chile ontem mesmo. O ex-presidente, de 67 anos, é acusado em 21 processos no Peru que incluem assassinatos, desaparecimentos, corrupção e enriquecimento ilícito.

Fontes judiciais peruanas disseram acreditar que o processo de extradição de Fujimori deve ser concluído antes do fim do ano, em razão das novas normas processuais que passaram a vigorar no Chile há cinco meses. Aparentemente, essa rapidez coincide com o desejo do governo do presidente chileno, Ricardo Lagos - que estaria disposto a evitar o surgimento de um novo ponto de atrito com o país vizinho.

O inesperado desembarque de Fujimori no Chile se dá no momento de maior tensão nas relações bilaterais. Do ponto de vista chileno, uma lei aprovada na semana passada pelo Congresso peruano viola tratados dos anos 50 sobre os limites marítimos entre os dois países - atribuindo ao Peru a soberania sobre 35 mil quilômetros quadrados de águas territoriais hoje controladas pelo Chile.

Fujimori chegou ao Chile como parte de seu plano de encerrar o exílio no Japão - onde estava desde 2000, quando abandonou a presidência peruana, em meio a um escândalo de corrupção e chantagem. Sua meta é candidatar-se nas eleições presidenciais de abril de 2006, em desafio às acusações judiciais e à suspensão de seus direitos políticos.

A equipe de defesa de Fujimori anunciou que recorrerá à Corte Suprema do Chile para tentar libertá-lo. O ex-presidente está detido numa pequena sala da Academia de Agentes Penitenciários, sem acesso a telefones celulares ou à internet.

Um porta-voz de Fujimori, Carlos Raffo, disse ontem em Lima que o ex-presidente tinha plena consciência de que seria detido quando decidiu viajar do Japão para o Chile. "Sua detenção é um momento difícil pelo qual ele sabia que teria de passar", disse Raffo. "Foi um risco totalmente calculado e o presidente Fujimori está absolutamente tranqüilo e confiante."